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Jundiaqui

 70 anos da televisão brasileira
19 de maio de 2020

70 anos da televisão brasileira

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Neste 19.5.2020, a televisão brasileira está comemorando setenta anos. Eu sou um pouco mais velho, eu tinha seis aninhos quando a falecida Tevê Tupi foi ao ar pela primeira vez. Meu pai comprou um receptor norte-americano que era uma caixa enorme de madeira, com botões de controle proporcionalmente grandes (controle remoto ainda não existia nem na ficção científica). Em compensação, a telinha quadrada era bem pequena. Branco e preto, naturalmente.

Nada de vídeo tape, nem de canais de cinema, era tudo ao vivo, até futebol (as câmeras eram transportadas para o estádio e depois voltavam para o estúdio). Exceção eram os desenhos animados, quase sempre os do pica-pau “Woody Woodpecker” atazanando a morsa Willie Walrus.

Todos os dias havia uma rápida cena cômica, a Bola do Dia, protagonizada pelo Walter Stuart e pelo David Neto, e logo em seguida vinha o programa “Alô Doçura”, uma historinha romântica protagonizada pela Eva Wilma contracenando com o Johnny Herbert.

Seriado infantil era “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, com a Lúcia Lambertini no papel da boneca Emília. Foi a melhor boneca Emília de todos os tempos.

Havia o “Circo Bom Bril”, os palhaços Fuzarca & Torresmo, e, nas manhãs de domingo, um teatrinho infantil com a superstar mirim Wilma Camargo, que foi para os meninos da minha geração o que foi a Emma “Hermione” Watson para os meninos da geração do meu filho Luís Filipe: a figura feminina fascinante.

O primeiro telejornal foi o “Repórter Esso”. O jingle publicitário da patrocinadora dizia “só Esso dá ao seu carro o máximo”, que nós alterávamos para “só osso dá ao seu cão o máximo” e achávamos uma graça enorme nessa brincadeira. As crianças daquela geração eram muito inocentes…

Outro telejornal do tempo da telinha em preto e branco foi o “Mappin Movietone”, apresentado inicialmente pelo Roberto Côrte-Real, cuja marca registrada era a gravatinha borboleta. A partir de 1959, quem passou a apresentar o “Mappin Movietone” foi ninguém menos que o poeta Paulo Bomfim, por extenso Paulo Lébeis Bomfim (1926-2019).

Pois é, o Paulo era jornalista naquela época, e passou para o telejornalismo provavelmente porque era uma bela figura de homem, com uma voz muito agradável. Até o ano passado, a voz do Paulo podia ser ouvida uma vez por semana apresentando, na Rádio Cultura, suas crônicas intituladas “Passeios da Memória”.

Conheci o Paulo por volta de 1960, na casa do amigo comum Altino Arantes, que gostava muito dele. Mas o Paulo só passou a me chamar de primo depois de 1990, quando eu casei com a Maria Helena, tetra neta do alemão Guilherme Lébeis, que veio para o Brasil por volta de 1850. O parentesco é muito distante, dentre os filhos desse primeiro Guilherme Lébeis, o Paulo é descendente do segundo Guilherme, Maria Helena é descendente de Anna Maria Lébeis, e os Lébeis de Jundiaí, a família do Alcindo Lébeis, são descendentes de João Lébeis. Mas o Paulo era muito interessado em genealogia. Tanto assim que foi até Gau Algesheim, uma cidadezinha com cara de presépio, vinte quilômetros a oeste de Mainz, onde os Lebeis (sem acento agudo) alemães são vinhateiros e tanoeiros pelo menos desde o século XVII. Lá em Gau Algesheim o Paulo rastreou a ascendência, geração a geração, até Johann Valentin Lebeis, nascido em 1678. Não é de se estranhar, portanto, que alguém tão interessado na família como ele chamasse a Maria Helena de prima, e eu de primo, por tabela.

Para você, que está entediado em casa com o isolamento social imposto pelo corona vírus, vale a pena citar aqui as seguintes palavras do saudoso Paulo Lébeis Bomfim, escritas em outra ocasião: “Neste momento de tanta angústia o livro torna-se a tábua possível de resistir ao naufrágio e comandar marés. Cabe a ele a missão de povoar solidões.” Grande Paulo. Assino embaixo.

Na foto ao alto estão Maria Helena e os saudosos Paulo Bomfim e Sônia Cintra (de costas). Abaixo, Maria Helena e o poeta e eu com ele também.

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