LOADING...

Jundiaqui

 A Ponte de Bambu
1 de dezembro de 2019

A Ponte de Bambu

Documentário inédito é lançado sobre o jornalista jundiaiense Jayme Martins

Cláudia Bergamasco

Eram anos de chumbo no Brasil e o jornalista Jayme Martins recebeu um convite para trabalhar em jornais, uma rádio e dar aulas na Universidade de Pequim, China. Ele foi. Quando o avião fez sua primeira escala, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, escreveu uma carta àquela que viria a ser sua futura esposa, Maria Angelina, onde dizia, entre outras coisas, que aquele momento da viagem para o outro lado do mundo parecia, para ele, estar inaugurando uma nova rota no Planeta Terra.

Sem saber, o que escrevera tornou-se realidade. As relações comerciais e culturais entre Brasil e China são hoje das mais poderosas e a família Martins tem forte participação na difusão dessas relações. Isso é só um pouquinho do que mostra o documentário inédito “A Ponte de Bambu”, exibido em sessão fechada com exclusividade para amigos e parentes na manhã deste domingo, 1º de dezembro, no Shopping Paineiras.

Escrito e dirigido pelo premiado cineasta Marcelo Machado, que se consagrou como documentarista, o filme é uma co-produção da Globofilmes com a Secretaria de Estado da Cultura e estreia no circuito cultural brasileiro em abril de 2020.

O estímulo para fazer o filme, diz Machado, é que os brasileiros precisam conhecer a experiência da família Martins (Jayme e Angelina, e as filhas Andréia e Raquel) na China. Contar a história da família ajuda, diz ele, a estreitar ainda mais os laços com a terra do Sol Nascente, que têm sido cada vez mais fortes, já que a China tem se consolidado como uma potência mundial em várias áreas da economia.

O documentário começou a ser produzido cinco anos atrás, em 2014, e só foi concluído agora, depois de muita pesquisa e entrevistas. Coincidentemente, o início das filmagens, muitas na chácara onde Jayme e Angelina moram, em Jundiaí, começou quando Jayme foi diagnosticado com o Mal de Parkinson. Mas, hoje, aos 90 anos, ele continua lúcido e com sua característica veia humorística afiada. Perguntado se está bem, ele responde sempre com sua voz potente: “Bem – galado”, por causa da bengala que passou a usar.

Jayme tinha 28 anos de idade quando foi para a China, então um país extremamente fechado e com um regime político comunista ferrenho. Casou com Maria Angelina por procuração e algum tempo depois o amor da sua vida embarcou numa viagem que mudaria para sempre sua vida. Em 1964, eles voltaram para o Brasil de férias. Jayme foi preso com a alegação de fazer parte da “guerrilha chinesa”. Angelina carregava Raquel no colo, então com três anos, e na barriga, Andréia. Conseguiram voltar 21 meses depois clandestinamente.

Raquel e Andréia aprenderam as primeiras letras em chinês e passaram toda a infância e a primeira adolescência em Pequim. “A gente se via como filhos de pais revolucionários”, diz Raquel no documentário. Aprenderam português depois do chinês (e seus dialetos).

Só depois que o governo brasileiro decretou o Ato Institucional 5 (A.I.5), em 1979, é que a família Martins voltou ao Brasil de forma oficial – Raquel com 15 anos, Andréia com 13. Em 1988, elas retornaram à China (eu conheci Raquel em 1984, quando passamos a dividir uma quitinete no centro de São Paulo e moramos juntas até ela ir estudar Letras Chinesas lá do outro lado do mundo).

A China tornou-se uma segunda casa para os Martins. Jayme tornou-se especialista em China. Foi correspondente de rádios e jornais brasileiros e ganhou prêmio por suas reportagens sobre o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, em que cerca de cinco mil estudantes pediam o fim da corrupção e do Partido Comunista. A imagem que ficou gravada na mente de todas as pessoas que assistiram pelas tevês do mundo inteiro aqueles protestos foi a do jovem estudante que, sozinho e desarmado, enfrentou um tanque de guerra e fez parar uma fileira inteira deles. Muita gente foi morta, entre eles, amigos de Raquel e de Andréia.

Não vou fazer spoiler do documentário. Mas posso dizer com toda certeza que Marcelo Machado puxou o fio de um novelo que se desenrola lindamente sobre a família Martins e como eles influenciaram e ainda influenciam pessoas de todas as idades a olhar o mundo de forma diferente, de como amplificaram as relações comerciais entre Brasil e China e ainda têm muito a oferecer para que essa potência se torne um parceiro ainda mais importante para o nosso país.

Seja quais caminhos a serem seguidos, eles, os Martins, estarão sempre ajustando os nós desta ponte de bambu.

Cláudia Bergamasco é jornalista

Foto mais ao alto: Fabbio Perez, jornalista, Jayme Martins e o cineasta Marcelo Machado.

Outra foto: da esquerda para direita, Andréia, Jayme, Cláudia Bergamasco e Raquel, que veio da China especialmente para a exibição deste documentário.

Prev Post

Justiça Federal obriga DNIT a…

Next Post

Gebram reúne empresariado na Maison…

post-bars

Leave a Comment