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Jundiaqui

 Marcel e o jogo que mudou o basquete para sempre
23 de agosto de 2017

Marcel e o jogo que mudou o basquete para sempre

Capitão da seleção que derrubou os EUA abre o jogo, revela memórias e aponta caminhos para o futuro

Edu Cerioni

Em noite festiva, em que recebeu amigos em seu apartamento de cobertura em Jundiaí, Marcel de Souza deu uma longa entrevista ao JundiAqui. Depois de um bom vinho e pizza, esse agora sessentão falou sobre basquete. A vitória no Pan-Americano de Indianápolis, em 1987, foi o gancho para um bate-papo descontraído e cheio de detalhes da carreira desse campeão. Ele lembrou de outros grandes jogadores, destacando dois jundiaienses, seu irmão Mauri e André, falou se era fácil ou difícil atuar junto com Oscar, destacou a importância de João Francisco Bráz e revelou o temor que tinha antes de entrar em quadra naquela noite de 23 de agosto de 1987 que ficou marcada na história do basquete.

Um longa conversa, interrompida apenas pelo badalar dos sinos de um relógio que Marcel herdou da avó e que serviu para levar o papo ao que guarda de lembrança dos tempos em que brilhou nas quadras do mundo todo e daquilo que foi jogado fora – e lamenta -, como as cartas dos fãs.

PAI HERÓI

Em sua apresentação, ele foi logo reverenciado seu grande ídolo, o pai: “Aqui em Jundiaí sou o filho do Ramon de Souza – também chamado de Romão, como no Centro Esportivo. Fora, sou conhecido por ter jogado 20 anos na seleção brasileira de basquete, disputando 4 Olimpíadas, 5 mundiais e 5 Pan-Americanos. Joguei também na Itália e nos grandes clubes do Brasil. Sou o segundo cestinha da seleção e o recordista como jogador em todos os tempos”.

O MEDO QUE DEU FORÇA

Sobre o Pan de Indianápolis, ele lamenta ser a última grande conquista do basquete masculino do Brasil. “Antes, tivemos as vitórias nos Mundiais de 1959 e 63, mas depois de 1987 veio caindo e vivendo momentos tristes”.

Sobre o jogo final, nos 120 x 115 EUA (leia mais) – isso depois de ganhar de Uruguai, Porto Rico, Ilhas Virgens, Venezuela e México, tendo tropeçado quando podia frente ao Canadá -, Marcel fez a seguinte definição: “Partida improvável, impossível, que não dava para ganhar, mas que ganhamos”. E prossegue: “Foi um marco, importante porque mudou o jogo. Nosso tipo de jogo, com arremessos rápidos e de longa distância, foi fundamental para a vitória, a primeira derrota dos EUA dentro de casa. E isso passou a ser disseminado pelo mundo todo. Hoje, você vê o campeão da NBA jogando de forma idêntica a nossa de trinta anos atrás”.

Marcel de Souza, que hoje é médico, lembra que a seleção deixou o país pensando na briga pelo vice. “Mas quando a vitória se configurava no final, começamos a acreditar que o ouro era possível”.

Ele revela um grande temor: “Entramos com muito medo de levar uma enfiada de 50 pontos. Vai ver que foi essa força que fez com que a gente ganhasse aquele jogo. Eu estava com 30 anos, atuava na Itália, e levar 50 pontos nas costas ia pegar mal, só pensava nisso”.

3 DE JUNDIAÍ

Filho de Romão, já falecido, e Loira de Souza (na foto abaixo), que estava na noite da entrevista no apartamento de Marcel, o ex-jogador fez questão de dizer que é jundiaiense, embora não nascido aqui. “Sou jundiaiense, campineiro por acaso. Fui lá só para nascer, minha mãe era de lá e meu tio foi o médico que fez o parto. Mas foi só”.

Conta que lembra de estar envolvido com basquete desde os 2 anos de idade. “Tinha bola em casa, ajudava meu pai a preparar a sua malinha, enrolando as faixas. Fecho os olhos e me vejo desde sempre envolvido com o jogo”.

Sobre serem três daqui entre os 12 do time comandado por Ari Vidal, assegurou que isso era fruto do trabalho exclusivo de João Francisco Bráz.  “É fruto do ensino do jogo que tivemos com esse grande ícone”.

Sobre Mauri, ele disse que é, “sem sombra de dúvidas, o melhor armador que o basquete brasileiro já teve”. Lembrou que o irmão mais novo pegou sarampo nos Estados Unidos e que atuou apenas um jogo. “Era o titular, mas não pôde disputar todo o Pan”.

Sobre André, explicou: “Começou no Esportiva Gledson e depois se destacou no Monte Líbano, onde eu também jogava. Era reserva do Oscar e entendeu ser esse seu papel naquela competição”.

E COMO ERA TER OSCAR AO LADO?

Pergunto a Marcel se era fácil ou complicado atuar com Oscar e ele diz que os dois. E explica: “Todo cara reclamava que o Oscar chutava todas, o que é complicado. Mas eu fazia trinta pontos do lado dele, fácil. Porque a grande defesa do outro time focava no Oscar e sobrava espaço para nós”.

Ele diz ter uma boa amizade com Oscar e lembra com saudade dos outros campeões – Guerrinha, Gerson, Israel, Paulinho Villas Boas, Rolando, Cadum, Pipoka e Silvio. “Vamos nos encontrar pra comemorar esses 30 anos do Pan”.

Toca o centenário relógio e questiono se ele guarda muitas coisas, e ele diz que não. “Bola e essas coisas não ligo. Minha mãe é que não gosta de memórias e jogou fora as cartas de fãs que eu guardava. Tenho a medalha do Pan, mas não aqui no meu apartamento, está em lugar seguro”.

E vem a pergunta sobre quem são os fãs e ele é puro bom-humor: “Não sei o que está acontecendo que meus fãs estão cada vez mais velhos. Antigamente, eram todas jovens e bonitas. Hoje viraram avós”. Não dá para conter os risos.

Um momento em que voltou a ser lembrado pelo grande público foi na passagem da Tocha Olímpica por Jundiaí, em 2016, quando foi ovacionado.

MEDICINA

Ele lembra que dedicou grande parte da carreira de jogador aos estudos. É formado médico e diz que isso atrapalhou um pouco os planos. “Se fosse só jogador, tenho certeza de que teria sido melhor nas quadras. E se fosse só médico, sei que seria um doutor melhor”.

A exigência dos estudos foi do pai e também para Mauri, que é dentista.

“Medicina é missão. E ser médico me ajudou também com o basquete, porque você usa muito a cabeça, adquire hábito de estudar. E o basquete me ajudou na Medicina, afinal te dá noção de hierarquia, de responsabilidade, de intensidade, de fazer aquela coisa naquele lugar e naquela hora”.

Para Marcel, “quem te chama para a medicina é a medicina. E sou grato porque, quando minha vida virou, foi ela quem me levantou de novo”.

O FUTURO DO BASQUETE

Aos 60 anos, Marcel não joga mais, mas continua ligado no basquete. Vê com moderação a NBA e lamenta que o Brasil esteja tão em baixa. Mas aponta o erro: “Treinamos e jogamos do mesmo jeito aqui dentro e lá fora, isso não dá resultado. Veja que até os americanos têm um modo de atuar na NBA e outro nas competições e por isso não perdem há dez anos”.

INESQUECÍVEL

Para fechar, ele elege a grande cesta de sua carreira e não foi no Pan, mas sim no Mundial de 1978, quando o Brasil ganhou da Itália com seus pontos na última jogada, faturando o bronze.

 

 

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