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Jundiaqui

 Alfabetizado já adulto, Carlos Alberto agora estuda espanhol na Argos
27 de abril de 2022

Alfabetizado já adulto, Carlos Alberto agora estuda espanhol na Argos

Ele compensa o déficit cognitivo com esforço dobrado para aprender ‘coisas boas’

Edu Cerioni

Esse na foto é Carlos Alberto Aguiar Lamas, que fará 52 anos nesta terça-feira, 3 de maio, com direito a ouvir um parabéns a você em espanhol – “Feliz cumpleaños a ti”. Ele relutou em tirar a máscara para ser fotografado, porque não acredita que o novo coronavírus tenha ido embora de verdade. É uma pessoa esperta, embora tenha nascido com uma deficiência cognitiva. Esta atrasa seu aprendizado, mas com esforço dobrado ele consegue acompanhar a turma do curso de espanhol gratuito no Centro de Línguas e Tecnologia da Informação Antônio Houaiss. É um dos mais assíduos alunos da professora Iolanda Lopes Castillo Ferreira.

Quer fazer como ele e aprender um segundo idioma? Tem inscrição aberta até domingo (1º) para língua inglesa, italiana, francesa e espanhola. É para maiores de 14 anos e sem limite máximo de idade. “Aqui é muito legal”, assegura Carlos. “A gente aprende coisas boas e faz amigos”.

As limitações fazem com que Carlos copie mais lentamente o que é colocado na lousa e tenha mais dificuldade de se expressar em espanhol, mas toda segunda e quarta-feira ele está no Complexo Argos pontualmente às 7h30 para mais um dia de aula e com a lição de casa feita e refeita. A mãe, dona Ivone, o acompanha nessa jornada, sentando na carteira ao lado na primeira fileira e oferecendo um suporte. Ela conta que antes da 6 horas ele já desperta e quer agilizar o café para chegar cedo na escola que fica a poucos metros de sua casa, na Vila Argos Nova.

Carlos frequentou por décadas a Apae de Itupeva, mas foi alfabetizado e completou o ensino médio aos 50 anos pelo CMEJA, o Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos de Jundiaí, também dentro do espaço que um dia abrigou a indústria têxtil Argos S.A., falida nos anos oitenta. Seu pai era um dos donos do Bar e Restaurante Avenida, que ficava na esquina à direita da Argos, na Dr. Cavalcante. Era o conhecido Cebolinha – os mais velhos vão lembrar dele carregando pelo menos uma dezena de canetas Bic no bolso do avental.

Dona Ivone conta como ajuda o filho a compreender melhor o espanhol: “Digo a ele, ‘leia em voz alta e vai fixar melhor’. Ele tem boa vontade e isso é o mais importante. E eu tenho paciência, assim como a professora Iolanda”.

A dica de procurar o Centro de Línguas para manter Carlos estudando foi dada por um professor do CMEJA e o espanhol escolhido por ser o mais próximo do português. “Fizemos inscrição, ficamos na fila, vim aqui e insisti, até que teve uma desistência e o chamaram”.

Entre o CMEJA e o Houaiss, Carlos fazia dever de casa que a irmã Simone levava da escola Paulo Freire. “Não gosto de ficar sem fazer nada”, ele avisa. Carlos também joga futebol pelo Peama – Programa de Esportes e Atividades Motoras Adaptadas -, onde vai passar a integrar a equipe de bocha agora em maio. Pergunto se gosta de fazer gol e ele diz que “gosto só de jogar”.  Seu time de coração? São vários e depende de quem ganhou no dia anterior, pode ser Palmeiras, o que mais diz ultimamente, Corinthians ou São Paulo. “Ele não quer decepcionar os amigos, então torce pelo mesmo time da pessoa com quem conversa”, revela a mãe.

Na visão dela, o filho é muito organizado. “Ele arruma a cama, lava a louça, faz bastante coisa em casa. Só não deixo que fique mexendo muito com comida no fogo”.

RARO, MAS OUTROS PODEM CHEGAR

Carolina Gasparotto Bertolo Carvalho, a diretora do Houaiss, diz que “alunos com questões especiais” são poucos, mas que o centro está preparado para receber esse público também. “O aprendizado aqui é direito de todos”, afirma. “Nossos professores estão preparados e o Carlos é prova de que os colegas fazem um bom acolhimento. No ritmo dele, ele aprende e, o mais importante, interage com as pessoas”.

Carolina lembra que as inscrições vão até dia 1º de maio e que elas voltaram a crescer depois de queda na pandemia. “Já são umas duas mil”.

Com duração de dois anos, as aulas serão ministradas de segundas e quartas ou de terças e quintas. Para o curso de inglês e espanhol, as aulas são no período da manhã, tarde ou noite; de italiano, no período da manhã e tarde; e de francês, no período da noite. Serão aulas presenciais ou online, dependendo da opção escolhida pelo interessado na vaga.

Para concorrer basta ser residente em Jundiaí e ter concluído o Ensino Fundamental ou estar cursando o 9ª ano no ato da matrícula.

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