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Jundiaqui

27 de julho de 2018

Eclipse

Por Thaty Marcondes

Hoje a lua se tingirá de sangue.

Não haverá ovulação: Só o líquido menstruado tingindo seu vulto.

Hoje a lua não sairá prateada às ruas, nem resplandecerá aos olhares dos apaixonados. Hoje ela não será fada madrinha: apenas fêmea comum, naqueles dias.

Estará mal humorada, por certo. Culpa da TPM. Explodirá em rajadas vermelhas pois hoje ela é carmim-cereja-fruto proibido: maçã do Éden.

Nem do amor hoje ela não quer ouvir falar. Hoje ela só quer sentir saudades, curtir a nostalgia. Embalando o clima, quem sabe um Glen Muller? Um baile orquestrado, uma valsa de quinze anos, um vestido decotado; a vela na mão e ela sem par, com um modelo justo e avermelhado. Vermelho-rubro-sangue. Vermelho-raiva-triste. Vermelho-amor-paixão. Vermelho-veneno-saudade. Dói. Ai como dói!

A face cora sem rouge nem blush. A boca sangra os desejos de morango.

Lembra-se do passado, quando era metálica, pálida, esquálida. Prefere ser Mar Vermelho que se admirar no espelho do Mar Morto.

Hoje a lua estará assim. Yesterday dos Beatles completa a noite triste, em que a lua sofrerá uma tentativa de morte. Veneno na lâmina afiada, enterra a adaga, arruína o corte. Hoje ela sangrará até o fim.

E eu choro: sua dor dói em mim.

Mas, pensando bem: vermelho é uma cor tão bonita!

Que tal uma música com trejeito tupiniquim? Pois afinal não há luar como esse do sertão!

Thaty Marcondes é escritora e poeta. Prêmio ALCG 2008 (crônica, primeiro lugar); Prêmio Anita Philipowski (2009); Vestibular UEPG (2010); Azul da Prússia (habilitado para os prêmios Brasil Telecom e Jabuti – 2013); Concurso Nacional de Contos (2013).

Foto: Valerie Gache/AFP visão da Lua sobre o Templo de Apollo, na Grécia, nesta sexta-feira (27)

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