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Jundiaqui

 Enterro sem velório mesmo com 2 testes negativos faz família pedir retratação
22 de maio de 2020

Enterro sem velório mesmo com 2 testes negativos faz família pedir retratação

Neta diz que dona Aparecida teve que ir em caixão lacrado “por falha de comunicação”; São Vicente alega seguir protocolo

Edu Cerioni

Dona Aparecida Pereira faleceu dia 8 de maio, por volta de 10 horas, aos 77 anos, no São Vicente de Paulo. Ela morava no Jardim Santa Gertrudes e chegou a ficar em isolamento por suspeita da Covid-19 no hospital, onde foram feitos dois testes para a doença e ambos deram negativos. Apesar disso, o corpo teve que ser enterrado em caixão lacrado e a família se viu proibida de realizar o velório. Desde então, a neta Sheila Santos Cereser vem tentando que o hospital admita o erro e se retrate.

“Nada vai mudar a tristeza dessa despedida, mas uma carta será uma forma de amenizar um pouco nossa dor”, conta ela que só soube que o caixão iria lacrado ao chegar com a roupa que a avó mais gostava para vestí-la. “Até já tínhamos acertado uma hora de velório, minha mãe escolhido o caixão, as flores… É inacreditável que ela foi embora da cama do hospital para dentro de um saco branco e dali em um caixão que não escolhemos, sem uma flor e sem que ninguém pudesse ver”, lamenta a psicóloga, que conseguiu o resultados dos dois exames negativos para a Covid-19 e que tem o atestado de óbito constando como causa da morte “choque séptico pulmonar / pneumonia / insuficiência cardíaca / hipertensão arterial sistêmica”.

O São Vicente alega em nota que segue o protocolo do Ministério da Saúde, “mesmo que atestem negativo para Covid-19 os que apresentavam sintomas de Síndrome Respiratória Aguda Grave devem ser sepultados em caixão lacrado”.

Sheila tem um e-mail que recebeu da Fumas, que cuida do Serviço Funerário Municipal, no qual a autarquia se isenta de responsabilidade pelo enterro em caixão lacrado. Do hospital, via assessoria de imprensa, o e-mail ainda diz que a paciente passou por “uma tomografia com resultado sugestivo” para a doença que já matou oficialmente 41 pessoas em Jundiaí até este 22 de maio.

A internação de dona Aparecida foi porque ela sentiu muita falta de ar no feriado de 1º de maio, algo preocupante especialmente para alguém com doença cardíaca. No dia 2, fez exame PCR com resultado negativo que chegou no dia 4. No mesmo dia 4, nova coleta para teste, este com resultado no dia 8, aparecendo negativo no sistema no começo da madrugada, aos 54 minutos. Horas depois ela foi a óbito.

“Disseram seguir o protocolo. Mas eu pesquisei no Ministério da Saúde e o protocolo exclui os casos com exame RT-PCR* negativo. Ou seja, fomos privados de ter um sepultamento como era um direito nosso”, explica Sheila, que ficou oito dias impedida de ver a avó em ala de isolamento na enfermaria do hospital, leito 103. E acrescenta: “Quantas famílias estão sofrendo o mesmo? Queremos que esse exemplo promova mudanças. Uma lamentável falha na comunicação dentro do hospital expôs uma família a todo esse sofrimento que não merecia”.

Com a morte, uma médica conversou com um familiar, tio de Sheila, e frisou o segundo exame negativo para a Covid-19, portanto não apareceria no Boletim Epidemiológico da Prefeitura de Jundiaí. “Dali já fomos direto para o velório, onde a atendente perguntou da roupa e foi então que a história que já era triste ficou ainda mais”, conta. “No dia do enterro foi aquela cena dos homens com a roupa branca carregando um caixão que não escolhemos, a cova cercada por corrente para ninguém chegar nem perto… enfim, aquele sofrimento de não poder ver uma última vez e ter a certeza de que realmente ela havia partido. Visualizar a imagem dela no caixão ajuda emocionalmente aceitar como verdade”, completa a psicóloga.

BENZEDEIRA SE FORMOU NA 5ª SÉRIE EM 2019

Dona Aparecida era natural de Santana do Itararé, Paraná, mas escolheu Jundiaí como sua terra, onde formou família. Vivia aqui desde os anos 70. Era viúva de Joaquim Eugênio Pereira e tem sete filhos. ERa famosa no bairro como benzedeira, atraindo gente de várias cidades da região. Também tinha um talento incrível para costurar roupas.

E gostava de um desafio: o último deles foi conseguir o diploma da quinta série, que teve formatura com direito a beca no final de 2019 na Emeb Professor Carlos Foot Guimarães.

Ela morava com a filha Salvadilha, que fez o teste rápido para Covid-19 e deu negativo. O enterro foi no Memorial Parque da Paz.

A RESPOSTA DO VELÓRIO: “O Serviço Funerário Municipal informa que, desde o início da pandemia, os protocolos estabelecidos a partir de orientações do Ministério da Saúde e aprovados pelo Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus estabelecem que, para segurança dos funcionários encarregados do transporte e manejo de óbitos ocasionados por Covid-19, são adotados os mesmos procedimentos para casos ainda tratados como suspeita da doença.

No referido caso, o Serviço Funerário Municipal foi procurado pela família, que apresentou a declaração de óbito emitida pelo hospital, cuja causa da morte mencionada no documento não era Coronavírus nem suspeita. Foi solicitado à família que providenciasse, então, as roupas para a preparação do corpo para o velório. Nesse momento, o hospital entrou em contato com o SFM para informar que o caso em questão deveria ser tratado como suspeita de Covid-19, seguindo os protocolos para transporte do corpo em urna funerária lacrada e o imediato sepultamento. Em função disso, a família foi comunicada para que retornasse ao hospital para as tratativas do sepultamento sem velório.

Diante disso, o Serviço Funerário Municipal procedeu com a devolução das taxas referentes ao velório e encaminhou o corpo para o sepultamento imediato, conforme definido através do Decreto Municipal Nº 28.920, que determina tal regramento para todos os casos positivos ou suspeitos da doença”.

A RESPOSTA DO SÃO VICENTE: “Inicialmente o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV) lamenta profundamente pelo óbito da Sra. Aparecida Pereira. Sabemos que este é um momento muito triste para toda a família.

Esclarecemos que durante a internação da paciente foi realizado exame de imagem tomográfica sugestiva para Covid-19. Também foram realizados dois exames em tempo oportuno que apresentaram resultado negativo.
Ainda assim, conforme as diretrizes para o diagnóstico e tratamento de Covid-19, determinadas pelo Ministério da Saúde, o resultado dos testes isoladamente não confirma nem exclui completamente o diagnóstico de Covid-19.

Desta forma, a infecção pelo coronavírus não pode ser descartada. Inclusive a paciente foi mantida em isolamento. Por essa razão é que, após o óbito, o Hospital não solicitou as roupas e nem outras medidas de praxe para o velório e sepultamento da paciente.

De qualquer forma, o Hospital está apurando internamente como as informações foram passadas aos familiares a fim de avaliar se há algum ponto a ser corrigido, evitando futuros desencontros de informações e transtornos como o citado pela neta da paciente.

Reforçamos a nossa solidariedade aos familiares e nos mantemos à disposição por meio de nossa Ouvidoria”.

*RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase polymerase chain reaction), é considerado o padrão-ouro no diagnóstico da COVID-19, cuja confirmação é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada, preferencialmente obtida de raspado de nasofaringe.

Em tempo: Sheila conta que o pai Marcos Nunes dos Santos deu entrada  nesta quarta-feira (20) no São Vicente e ficou internado por um dia, quando passou por uma endoscopia e teve diagnosticada uma esofagite e que agora aguardar resultado de biópsia. “Quero registrar que ele foi muito bem atendido., porque é justo reconhecer o atendimento que foi prestado a ele no meio da correria que está lá pr conta dessa pandemia”.

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