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Jundiaqui

 Exclusivo: JundiAqui abre as portas do museu particular de Sílvio Gebram
24 de fevereiro de 2021

Exclusivo: JundiAqui abre as portas do museu particular de Sílvio Gebram

São três andares com diferentes coleções, obras de arte e miniaturas, uma “miscelânea de valor sentimental e histórico”

Edu Cerioni

Jundiaí ganha o Espaço Cultural Marbeg, que abriga o Museu Particular Fortunato Antonio Milani (Tico), realização de um antigo sonho de Sílvio Gebram.

Onde um dia existiu um antigo casarão familiar que acabou reformado completamente na Chácara Urbana, o agora empresário aposentado reuniu milhares de itens que colecionou ao longo das últimas décadas. Ali, só o prédio de três andares e 660 m² é novo, porque dentro dele existem preciosidades mais que centenárias, raridades do Brasil ou vindas de outros países.

Marbeg é Gebram de trás para a frente e reflete bem a realidade do museu, sem começo nem fim, tanto que tem duas portas que servem de entrada ou saída. De certo é cheio de atrações e gratas surpresas por toda parte, do jardim ao quintal, em cada parede, prateleira, no teto ou chão.

CAÇADOR DE QUINQUILHARIAS

É um lugar tão inusitado em que cabem uma coleção de bichinhos de pelúcia da Parmalat da filha de Sílvio e bússolas e um escafandro do século passado, além de leões de madeira ocos dos tempos do Império e usados para o contrabando de ouro. Abriga ainda diferentes coleções de pinturas e esculturas e cerca de 3 mil caixinhas de fósforo e incríveis 24 mil miniaturas de garrafas, distribuídas em 122 estantes e separadas pelo tipo de bebida.

Sílvio, 68 anos, acionista da Gebram Seguros, uma empresa It’s Seg Company, conta que desde pequeno sempre gostou de “quinquilharias” e que esse prazer de caçar relíquias só foi crescendo com o tempo.

Uma joia rara é a garrafinha Caninha Pelé, que teve uma pequena produção em 1958, ano em que o jogador de 17 anos ajudou o Brasil a ganhar a primeira Copa do Mundo e começava a escrever seu nome como “Rei do Futebol”. Como cachaça não combina com esporte, logo Pelé quis tirar de circulação a bebida e poucas unidades foram comercializadas. “Se a garrafa é rara, imagine então a miniatura”, diz um orgulhoso Sílvio, mostrando seu exemplar. E avisa: “Tudo está segurado pela Gebram”.

O térreo, como já citado, é das garrafinhas e elas são de mais de uma centena de países, diferentes tamanhos e todo tipo de formato, como piratas e índios, entre outros. Há ainda casinhas holandesas que a KLM produzia anualmente como brinde de aniversário. As bebidas são whisky, vinho, bourbon, licor, pisco, vodka e o que mais se imaginar e estão presentes em 95% da coleção – a do Pelé é uma das já consumidas e há outras que evaporaram com o tempo.

Essa coleção foi apresentada até no programa “Fantástico”, da TV Globo, em reportagem de Mariana Godoy, quando era a maior da América Latina nos anos 90. Hoje Sílvio não sabe mais a posição no ranking de colecionadores, mas segue um dos “tops”.

IMAGEM E SOM

Mas antes de chegar às garrafinhas, que ocupam o térreo, o visitante já vai ter uma grande recepção no jardim. Além dos leões em tamanho natural, um a cada lado da porta, estão expostas na parede cabeças feitas pelo artista Tao Sigulda (*1914 +2006). Os postes de iluminação são ingleses, assim como uma caixa de correios e o sino que pertenceu a uma estação ferroviária da Terra da Rainha e com badaladas que fazem o anfitrião viajar longe. “Ouça que sonoridade ímpar, reverbera um tempão”, destaca. Na fachada há ainda um grande relógio que Sílvio chama de “Little Ben”, por ser uma cópia do Big Ben londrino.

No jardim ainda se vê animais e uma estátua-chafariz em bronze que veio de uma praça da França. Do mesmo país lá dentro há um retrato do Museu do Louvre. Sílvio ri e conta a razão de estar ali: “É para lembrar que o Louvre é o segundo em importância no mundo, atrás do nosso aqui”. Exagero à parte, em Jundiaí não se tem nada igual em diversidade e qualidade.

HOLLYWOOD E LAMPIÕES

Dos Estados Unidos, ele trouxe um canhão de luz cinematográfico de Hollywood e uma geladeira de Coca-Cola, daquelas que a gente vê no “Caçadores de Relíquias” do History Channel. Do sertão coleciona lampiões de tempos passados que não voltam mais.

Da Argentina tem uma cafeteira que serviu muita gente em um dos “Cafes Notables” de Buenos Aires. E tem cada bule de agata e porcelanas banhadas a ouro que saltam aos olhos. Existem peças alemãs, italianas e de toda parte.

O acesso aos andares superiores é por uma trabalhada escada em caracol de ferro, que embeleza o museu. Mas pode ser por elevador, afinal se pensou também na acessibilidade, que é total – há rampa lateral e o elevador que comporta uma pessoa em cadeira de rodas. Tem cadeira de rodas disponível ali, assim como maca e material de primeiros socorros.

E antes de seguir no passeio, vale lembrar que o Espaço Cultural Marbeg conta com licenças municipais e alvará do Corpo de Bombeiros – os extintores de incêndio, por exemplo, estão por toda parte e junto de cada um figura um exemplar decorativo que pertenceu à Cia Paulista de Estradas de Ferro em cobre que é puro charme.

Maços de cigarro e 3 mil caixinhas de fósforo (estas sendo a maioria fruto de doação de Cristina Lima Fagundes) formam duas belas coleções, assim como a de selos. Sílvio avisa que aceita outras doações.

O colecionador reconhece que foi colocando os objetos sem muito critério, seguindo seu gosto próprio. Assim, ao avançar pelo espaço se vê coleção de rádios, cachimbos, balanças, relógios, baleiros, ferros de passar… máquinas de costura, de escrever e de somar, estas últimas as prediletas dele, “afinal aqui corre sangue turco”.

ESSES ARTISTAS MARAVILHOSOS

Além de Tao Sigulda, pintor, gravador e escultor que veio da Lituânia para criar um centro cultural em Jarinu, obras de outros artistas têm relevância ali, como os 62  quadros do pintor predileto de Sílvio, Virgílio Della Monica (*1889 +1957), “de um bronze inigualável”. Era amigo de seu pai, Salim Gebram, e o presenteou com seis quadros, sendo que os demais Sílvio foi comprando em galerias e antiquários.

Outra artista que o colecionador adorava era Semíramis Rosa Mojola (*1931 +2011). Ele tem na sua coleção particular quase três dezenas de peças dela em bronze, incluindo uma réplica da escultura “Cultura”, que tem cinco metros de altura e fica na praça da rotatória das avenidas 9 de Julho e Antonio Frederico Ozanan, bairro Ponte de Campinas, inaugurada em maio de 2000 como presente da própria Gebram Seguros para o povo jundiaiense.

Em madeira, há um portal de Edson Lufac e vários trabalhos de Valdir Pinheiro da Silva, da mesma escola de Lufac com cores e formas que dão vida ao Marbeg. Silva foi funcionário da seguradora por longo tempo.

Entre os milhares de itens e as centenas de obras de arte o grande xodó de Sílvio é uma pintura de seu tio querido Zecê, o Zico da Caixa. A razão é simples: lhe toca o coração. Trata-se do retrato da poodle Pitch, o cão mais querido que o jundiaiense já teve na vida. Ganhou artigo em jornal na sua despedia e tem túmulo no sítio da família. “Essa vale mais que a Mona Lisa para mim”.

200 ANOS

Réplicas de barcos ficam lado a lado com bússolas, luneta e até a parte superior de um escafandro em ferro fundido e que pesa uma enormidade. Dá dor no pescoço de Sílvio só de pensar que alguém mergulhava com aquilo. Por falar em peso, há balanças diversas, entre elas duas que pedem moeda para indicar o peso da pessoa. O anfitrião brinca que também adora essas peças. Outra atração dali muita estimada é por sua idade: um relógio produzido há 200 anos e presente do dono da Finasa.

Em uma só tarde fica até difícil de conhecer todo o espaço, onde cabem divindades indianas, vitral de igreja, estátuas em mármore, arte em seda japonesa e até um escudo de armadura feito de alpaca, assim como móveis diversos. Nas fotos que acompanham essa reportagem você verá muitas e muitas outras incríveis raridades garimpadas por Sílvio Gebram e que o Marbeg traz uma certeza de longevidade. “Ao reunir tudo aqui, acredito que as futuras gerações da família terão um carinho e cuidados extras para a preservação dessa história”.

Quem tem seus anos dourados escritos ali é Fortunato Antonio Milani, o Tico, futebolista, orador, historiador e filantropo que aposentou-se como contador da Prefeitura de Jundiaí. É um grande inspirador e amigo de Sílvio. “E tenho orgulho porque a homenagem a ele foi em vida”, diz.

Já uma homenagem póstuma foi feita a Sônia Cintra (*1949 +2018), um “cantinho” com escrivaninha em que ela produzia seus e poemas e com toda a coleção de livros publicados pela ex-cunhada.

Sílvio Gebram não pretende abrir a visitação ao público em geral, mas espera passar a pandemia do novo coronavírus para organizar visitas monitoradas de estudantes. Ele dá aulas como voluntário do projeto “Amigos da Escola”.

MÚSICA E GASTRONOMIA

O Espaço Marbeg conta com escritório, sala de reuniões e um auditório para até 34 pessoas sentadas. Há churrasqueira, claro que toda cheia de atrações, no quintal e uma ampla cozinha. Sílvio fez curso express de gastronomia e mostra os dotes de chef aos amigos, grupo de até 36 pessoas, com comida deliciosa em um ambiente único que parece ficar dentro do túnel do tempo.

E por fim e não menos importante, tem o estúdio musical todo decorado com os mais diversos instrumentos, como piano, violões, saxofone etc. As paredes apresentam ilustrações de compositores de séculos passados. Toda terça e quinta à tarde Sílvio e banda ensaiam, mas essa é uma história que a gente conta outro dia. O grupo se chama Os Museucistas e toca de Wando a Frank Sinatra.

“É tudo eu, com os méritos e os defeitos” – Sílvio Gebram

Fotos: Edu Cerioni e Divulgação

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