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Jundiaqui

 Maria Paula defende no Clube Jundiaiense a sororidade
9 de março de 2020

Maria Paula defende no Clube Jundiaiense a sororidade

Encontro comandado pela atriz e psicóloga marca o Dia da Mulher na cidade

Edu Cerioni

A aliança entre mulheres em busca de protagonismo no mundo é o que defende Maria Paula, união essa chamada de sororidade. “Uma ajuda a sustentar o brilho da outra, sem competitividade, porque juntas somos imbatíveis”, disse para uma plateia de muitas associadas e convidadas e alguns poucos homens neste domingo (8). A ex-“Casseta & Planeta”, que é mestre em psicologia social e processos de desenvolvimento humano, veio por conta das comemorações do Dia Internacional da Mulher ao Clube Jundiaiense.

Ela citou números, recuperou capítulos importantes da história humana, trouxe estudos e pesquisas. A convidada falou por mais de uma hora e meia, respondeu perguntas e saiu aplaudida ao dar seu recado de que é preciso que a mulher tenha muitos “recursos internos” para encarar os desafios de nossos tempos e assim não ser derrubada por rasteiras que se repetem por séculos.

“Acordei cedo, fui recapitular a história de Eritríea para vir aqui hoje. Eu estudo sempre e mais. É preciso muita atenção da mulher com o que está gastando seu tempo, tem que ser para melhorar o repertório. Não dá para ficar vendo novela ou coisas apodrecidas”.

Maria Paula Fidalgo abriu a conversa lembrando que “somos maioria no Brasil e os 47% dos homens vieram de dentro de nós”. E já bateu na tecla do que viria a falar com insistência, ao lembrar de uma viagem com a filha Maria Luiza, 15 anos, que em um museu da Europa lamentou a falta de artistas mulheres. “Lá estavam os Renoirs, os Rembrandts, os Picassos e eu disse que o protagonismo feminino nos foi roubado e ainda hoje é negado. Contei a ela que as mulheres fizeram e fazem muitas descobertas importantes, mas são os homens quem assinam por elas”.

Disse ser de uma família comum brasileira em que a mãe abriu mão de seus sonhos, como de ser artista, para cuidar de marido e filhos. “Eu logo cedo já avisei que seria diferente, tanto que com 16 anos já fazia psicologia na UNB (Universidade de Brasília)”.

Em um fim de tarde de domingo chuvoso, Maria Paula elogiou a presença das mulheres e questionou se todas ali estão fazendo sua parte e impactando a sociedade em que vivem, ao invés de ficarem imobilizadas por tanta notícia ruim, pelo cornavírus, por enchentes, desmandos políticos etc. “A dor é inevitável, mas o sofrimento opcional”, ensinou. E usou como exemplo a agora deputada federal Keiko Ota. “Ela foi na prisão e perdoou, perdoou de verdade, o assassino de seu filho. Até criou o Dia do Perdão. A Keiko tornou-se inspiração. Porque ao invés de murchar, mostrou a razão de nascermos para brilhar”.

Maria Paula disse que seu próprio brilho foi ter ajudado a ampliar de 4 para 6 meses a licença maternidade das brasileiras. “Me chamaram para fazer campanha na TV de aleitamento e nas ruas as mulheres reclamavam que tinham que voltar a trabalhar cedo demais, briguei até conseguirmos mudar a lei. Foi um divisor de águas em minha vida, vi que podia usar minha imagem para impulsionar de forma relevante meu país. Parei de me preocupar em estar elegante na capa de ‘Caras’ e fui fazer trabalhos para a sociedade. Tanto é assim que fui de garota propaganda das Organizações Tabajaras (um quadro do ‘Casseta’ na TV) para embaixadora da Paz do Brasil”.

Falou sobre maternidade e disse acreditar que a “chave” para se formar cidadãos melhores está nas primeiras impressões que as crianças têm, no vínculo com a mãe. “Esse é o maior momento de transformação social, o olho no olho, o colo de mãe. Mais tarde essa pessoa vai reagir aos acontecimentos da vida com mais afeto”.

Avisou que o mercado tenta dizer que para a mulher ser bela tem que ser magra, que só é inteligente se tiver títulos, coisas que não se pode mais aceitar. “Vou fazer 50 anos, que delícia, sou eu do meu jeito. Para que padrão estético? Isso é mentiroso, querem que a gente perca o foco no que realmente interessa”.

Sobre o novo feminismo que defende, contou ser baseado em condutas verdadeiramente da mulher, e foi enumerando a delicadeza, a suavidade, a generosidade, a tranquilidade… “Temos tantos atributos para mudar o mundo que até me dá arrepio”. E prosseguiu: “A mulher tem que mostrar o que é elevar o nível do jogo. Esse papo de olho por olho e dente por dente dos homens vai terminar com todo mundo cego e banguelo”.

Sobre o movimento feminista, definiu como um desvio da vocação da mulher, embora necessário. “Ela teve que ir de igual para igual, então se endureceu, perdeu a característica da feminilidade. O novo feminismo dá a possibilidade de mudança pelo amor, respeito, flexibilidade.  E os homens que estimulem dentro de vocês a conduta feminina, converse e não ataque, mostre com argumentos consistentes que você pode fazer diferente e não imponha”.

Maria Paula garante ser exemplo: se tiver algo de bom pra dizer a alguém ou sobre alguém o faz; agora, se não tem, se cala. “Não gasto energia com fofoca. E em um momento do país em que o feminicídio está nas alturas, a depressão é uma epidemia, o suicídio aumenta por conta de escolhas erradas, a gente tem que estar bem dentro da própria pele. Tem que estudar, buscar melhorar os recursos internos, se não acaba procurando a bebida, as drogas e aja coisa para tentar tapar um buraco que nunca enche”.

Outro ditado usado: um bambu sozinho verga, mas vinte juntos não. “Não temos que competir, temos que empoderar umas às outras, não se sentir ameaçada com a presença de outra mulher. A palavra é sororidade e não competição, esse é o momento do novo feminismo”. A atriz e psicóloga pediu, então, que cada uma no salão do CJ que abraçasse a amiga a seu lado, um momento bem legal do encontro do domingão.

Nesse papo com as jundiaienses, Maria Paula viajou por séculos, visitou o teatro da Grécia Antiga, para mostrar que o homem usou a arte para mexer com a história, para tirar o lugar delas de deusas, algo que se consolidou com o direito de propriedade, quando o filho ganhou o sobrenome do pai e não da mãe para poder virar seu herdeiro. Resgatou Oresteia, Clitemnestra, Agamemnon para indicar que a veneração pelas mulheres foi sendo minada ao longo do tempo. Nesse caminho aos dias atuais entraram até as bruxas.

Questionada por uma ouvinte sobre o lugar do homem, disse não saber exatamente a resposta, mas que homens e mulheres têm que encontrar o ponto de equilíbrio. O presidente do Clube Jundiaiense, Paulo Lopes, aproveitou para dar sua opinião: “Há preconceito dos dois lados e homens e mulheres têm que juntos construir um mundo melhor”. Ele destacou ainda que assumiu sem nenhuma mulher na diretoria e apontou a presença ali de Giovanna Cardin, nova diretora de Cultura.

Outro comentário veio da empresária Kitilaine Piovesan e definiu exatamente o que foi o encontro: “Maria Paula, você me surpreendeu!”. Acredito que tenha falado por todas e todos ali.

Veja fotos:

Fotos: Edu Cerioni

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