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Jundiaqui

 A espada no brasão de Jundiaí
27 de março de 2023

A espada no brasão de Jundiaí

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello*

O brasão de Jundiaí foi criado, na década de 1920, pelo prestigioso historiador e heraldista Affonso de Taunay (1876-1958). O significado dos elementos heráldicos que compõem o brasão pode ser consultado na “JundPedia” de Celso Francisco de Paula, disponível na Internet, no verbete “brasão de Jundiaí”. Para esta nossa conversa, interessam apenas os “tenentes” (termo heráldico que remete às figuras humanas que ladeiam o escudo), no caso um bandeirante à esquerda e, à direita, um capitão-mor da milícia local (em farda do século XVIII).

Cada um desses “tenentes” porta uma arma branca presa ao cinturão. O oficial da milícia porta um sabre de cavalaria, bem visível no brasão. O bandeirante porta uma espada quase inteiramente oculta atrás do corpo, da qual só se vê parte da empunhadura e do guarda-mão.

O guarda-mão é em estilo espanhol, composto de duas peças, uma guarda-cruzada (barra transversal à lâmina) e uma copa. Para ilustrar, estou juntando uma figura de bandeirante desenhada pelo artista plástico Belmonte, pseudônimo de Benedito Carneiro Bastos Barreto (1896-1947), na qual aparece claramente uma espada análoga à portada pelo bandeirante do brasão de Jundiaí.

Esse guarda-mão permite identificar aquela arma como uma espada rapieira. A espada rapieira é um modelo de espada de lâmina longa, estreita e pontuda, criado na Espanha, em meados do século XVI, com a preocupação de ter um desenho elegante, para servir de adorno à indumentária de gala dos fidalgos. Daí ficar conhecida inicialmente como “espada ropera” (roupeira, em Portugal). Não se prestava para uso militar, era uma arma civil, usada para defesa pessoal ou em duelos.

É aí que eu queria chegar. É inconcebível que um bandeirante portasse uma espada rapieira ao se embrenhar na mata virgem. Não serviria para nada naquele contexto. Pior do que um peso morto, seria um estorvo. O que os bandeirantes carregavam, além do mosquete, eram facões próprios para abrir picadas e eventualmente carnear uma caça. Mas, para fins heráldicos, facão não é considerado arma branca, é considerado ferramenta, instrumento de trabalho braçal. Muito plebeu para ser utilizado como componente heráldico em um brasão, que por natureza é um emblema de conotação aristocrática.

Se porventura algum bandeirante alguma vez carregou arma branca em suas andanças pelo sertão, não seria com certeza uma rapieira, seria um sabre de abordagem ou um alfange cutelo, armas ambas de lâmina curta, larga e pesada, como um facão.

Concluindo, quando nossas autoridades municipais decidirem fazer a necessária correção no brasão da cidade (a data não é 1655, é 1656), poderiam aproveitar o embalo e pedir a algum artista plástico local (o João Borin, por exemplo) que substitua o guarda-mão da espada do bandeirante por um guarda-mão de sabre de abordagem. Fica aí a sugestão.

*Escritor e historiador
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One thought on “A espada no brasão de Jundiaí

VIVALDO JOSE BRETERNITZsays:

ótima idéia.

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