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Jundiaqui

 A Família Jorge Velho patrocinou o Centro histórico de Jundiaí
19 de setembro de 2020

A Família Jorge Velho patrocinou o Centro histórico de Jundiaí

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

O primitivo arraial jundiaiense, formado nos anos quarenta do século XVII, passou por uma reurbanização a partir de 1651, quando teve início a construção de uma nova capela, com proporções de igreja, para substituir a capela de 1634. Essa nova capela tornou-se Igreja Matriz em 14.12.1655. Na mesma ocasião, o arraial arvorou-se em Villa Fermosa de Nossa Senhora do Desterro do Jundiahy. A partir de então, a Câmara recém eleita cuidou de legalizar a propriedade dos imóveis urbanos, mediante a concessão de títulos chamados “cartas de data de chãos”, expedidos em nome do Conde de Monsanto (bisneto de Martim Afonso de Sousa e herdeiro da Capitania de São Vicente).

Os requerimentos e despachos referentes às primeiras cartas de data, expedidas em 1656, foram extraviados, mas os de 1657 foram encontrados nos arquivos da Câmara por Mário Mazzuia, que pesquisou nesses documentos os nomes das cento e onze pessoas e famílias que receberam cartas de data em 1657, bem como as razões alegadas por essas pessoas para requererem aquelas “datas de chãos”: povoadores havia tal ou qual número de anos, filhos e netos dos primeiros povoadores, etc.

Cruzando a pesquisa de Mazzuia com os livros de genealogia, verifica-se que entre os mais antigos moradores da Villa Fermosa de Nossa Senhora do Desterro do Jundiahy estavam diversos membros da família Jorge Velho, que tiveram papel importante na construção do que hoje é chamado o centro histórico da cidade. Em um dos extremos desse centro histórico, os Jorge Velho estavam entre os patrocinadores da capela de 1651 e, no outro extremo, foram eles os patrocinadores da construção do Mosteiro de São Bento. Passo a identificar quem era quem.

O tronco da família Jorge Velho foi o português Simão Jorge, nascido em Viana do Minho. Casou com Agostinha Rodrigues (nome que se repete várias vezes na descendência), filha dos também portugueses Garcia Rodrigues e Isabel Velho.

O genealogista Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919), a partir de documentos diversos, descobriu cinco filhos de Simão Jorge e de Agostinha Rodrigues, mas só conseguiu enumerar de forma abrangente a descendência de três desses cinco filhos: o segundo Simão Jorge, Aleixo Jorge e Onofre Jorge Velho (“Genealogia Paulistana”, volume VIII, páginas 361 a 387). No que se refere ao filho Francisco Jorge Velho, Silva Leme descobriu muito pouco. Apenas que foi casado e teve pelo menos uma filha, Violante Jorge, falecida em 1607, que foi casada com Álvaro Henrique e teve uma filha Maria.

Pesquisa mais recentemente, do genealogista Marcelo Meira Amaral Bogaciovas, revelou que Francisco Jorge Velho foi casado com Antónia Dias e teve, além daquela Violante Jorge mencionada por Silva Leme, pelo menos mais um filho, António Jorge, nascido por volta de 1590, que casou por volta de 1614, em São Paulo, com Petronilha Rodrigues Antunes, filha do célebre bandeirante Manoel (Antunes) Preto e de Águeda Rodrigues.

António Jorge e Petronilha Antunes tiveram pelo menos dois filhos, Manuel Preto Jorge e Antónia Dias Preto, ambos moradores em Jundiaí em 1657, como se vê pela pesquisa de Mazzuia. Antónia Dias Preto foi casada com João Paes Málio, com o qual teve quinze filhos, alguns dos quais já tinham idade suficiente, em 1657, para requerer à Câmara cartas de data de chãos.
Pois bem, como é de conhecimento mais ou menos geral em Jundiaí, a construção da capela de 1651 (onde hoje está a Catedral) foi patrocinada pelo segundo Rafael de Oliveira, e respectiva família, e pela viúva Petronilha Antunes, e respectiva família (Livro de Tombo da Matriz). A família da viúva Petronilha era Jorge Velho por parte de pai, como visto acima. Quanto a Rafael, ele tinha um meio-irmão chamado Alberto de Oliveira d’Horta, também residente em Jundiaí, casado com uma filha de Aleixo Jorge, que era tio do marido de Petronilha Antunes.

Passando agora para o outro extremo do centro histórico, a construção do Mosteiro de São Bento (acima em pintura de Cristiane Carbone) foi patrocinada por Estácio Ferreira e sua mulher Violante Jorge, que para isso fizeram doação de terras e outros bens. Estácio Ferreira era português e Violante Jorge era filha do segundo Simão Jorge, tio do marido de Petronilha Antunes.

Estácio Ferreira e Violante Jorge foram pais de Mariana Vaz Ferreira, casada com o segundo João Raposo Bocarro, que em 1657 declarou à Câmara ser residente em Jundiaí havia dois anos, o que sugere que casou em 1655. Recebeu um terreno na Rua Direita (hoje Rua Barão de Jundiaí), com vinte braças de testada e quarenta braças até os fundos. Outro filho de Estácio e Violante, Simão Jorge Ferreira, também recebeu vinte braças de testada na Rua Direita. Uma braça equivalia a dez palmos, ou seja, aproximadamente 2,20 m. As medições não eram muito precisas.

A pesquisa de Mazzuia menciona ainda Maria Jorge e sua irmã Agostinha Rodrigues (mesmo nome da avó), qualificadas como “donas viúvas dos primeiros povoadores”. Os nomes indicam de forma inequívoca que essas duas senhoras eram da família Jorge Velho e, como não se encaixam na descendência do segundo Simão Jorge, nem na de Aleixo Jorge e nem na de Onofre Jorge Velho, por eliminação podemos concluir que eram netas de Francisco Jorge Velho (o quinto irmão não deixou descendência). Maria Jorge seria aquela Maria anotada por Silva Leme como filha de Violante Jorge e Álvaro Henrique, neta materna de Francisco Jorge Velho. Sendo assim, as duas eram sobrinhas do marido de Petronilha Antunes. A charada genealógica ainda por resolver é quem teriam sido os defuntos maridos, descritos como primeiros povoadores no requerimento de carta de data.

Para concluir, a família Queiroz Telles, do Barão de Jundiaí, que já no século XIX construiu palacetes ainda existentes no centro histórico, é descendente de Aleixo Jorge. Também descende de Aleixo Jorge a família Siqueira de Moraes, que rivalizava com os primos Queiroz Telles na política local.

Luiz Haroldo Gomes de Soutello é historiador

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