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Jundiaqui

 Maria dos Pacotes: o mito vive
21 de fevereiro de 2018

Maria dos Pacotes: o mito vive

Carlota Edith Barbieri, uma pequena e frágil mulher, adotou um estilo de vida que assustava muita gente

Edu Cerioni

Jundiaí perdeu Carlota Edith Barbieri em uma terça-feira, no dia 5 de janeiro de 2009. Foi enterrada uma cansada mulher de 84 anos, que vivia na cama há quase uma década, vítima de atropelamento. Foi-se a idosa frágil e de brilhantes olhos azuis. Ficou o mito eternizado no apelido Maria dos Pacotes.Qualquer jundiaiense na faixa dos 40 anos lembra daquela pedinte que vivia pelas ruas carregando tudo o que ganhava. Tudo mesmo. De um bife frito a roupas, ela embrulhava qualquer coisa que passasse por suas mãos e arrastava até sua casa. Onde? Isso ninguém sabia dizer.

Nos últimos anos, Maria dos Pacotes vivia em uma pensão no Centro, onde morreu. Sob o colchão, o velho jornal da década de 60 que exibia o edital de seu casamento nunca realizado.Diz a lenda que Carlota se tornou Maria dos Pacotes no final dos anos 60, ao ser abandonada no altar. Os pacotes representariam os presentes que o casal havia recebido e que ninguém sabe o paradeiro.

Ela adotou um estilo de vida que assustava muita gente. E era uma mulher brava, que não levava desaforo sem dar o troco. “Uma vez ela correu atrás da minha irmã até em casa e, lá, jogou um monte de coisas na porta, xingando muito”, recorda o mecânico Ronaldo Damásio. “Todo mundo tinha medo dela.”Pais ameaçavam ‘entregar’ os filhos

Diferente da criação de hoje, nos anos 70 muitos pais usavam o nome de Maria dos Pacotes para colocar os filhos na linha.

A advertência que deixava os filhos com medo era uma só: “Ou faz o dever ou te dou pra Maria dos Pacotes”. Quem ousaria não correr cumprir as tarefas?

Maria, quer dizer Carlota, foi enterrada no Cemitério Nossa Senhora do Desterro, no Centro, por onde perambulou anos a fio. Não levou nada além da roupa do corpo.Inspiração

Maria dos Pacotes sempre intrigou os artistas e jornalistas da cidade. É citada em poemas, foi retratada em quadros e fotos e inspirou um monólogo. A última homenagem eu mesmo fiz, me vestindo como ela para desfilar no Carnaval do bloco Continuamos na Nossa, dia 12 de fevereiro de 2018 (foto acima). Mas que fique bem claro: ela nunca gostou de nada que despertasse a atenção dos curiosos.

“Ela gritava e fazia gestos para quem ia lhe fotografar, mas nem assim eu desisti. A primeira foto que fiz dela foi em 1977”, relembra Regina Kalman, professora e artista que recebeu prêmio em concurso fotográfico com a imagem da pedinte – a que aparece no alto da página, reproduzida em tela pela própria Regina.José Renato Forner fez um monólogo, sob direção de Marcos César Duarte, no qual interpretou Maria dos Pacotes. Conta que visitou esse mito na pensão em que morava (foto abaixo) e ficou impressionado em como uma mulher tão pequena e frágil conseguiu assustar tanta gente.

“No monólogo usamos os pacotes como metáfora para mostrar quantos sonhos deixamos guardados e que acabam se perdendo”.

Em tempo: Maria dos Pacotes nasceu em 5 de agosto de 1923.

(Matéria publicada originalmente pelo Jornal “Bom Dia Jundiaí” – veja abaixo -, do qual Edu Cerioni era editor-chefe na época da morte de Maria dos Pacotes)

 

 

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