LOADING...

Jundiaqui

24 de janeiro de 2018

O canto da cigarra

Por Cláudia Bergamasco

A cigarra canta à noitinha anunciando a chegada do verão. O calor já não se avizinha, ele se faz presente, como garante a cigarra e o cri-cri dos grilos. Joana vai até a janela balcão de seu quarto para ouvir os insetos, que não guardam sigilo e têm estilo únicos. Mas, logo as nuvens escuras escondem a lua, o vento assovia, desgrenha seus cabelos, levanta sua saia. A chuva vem junto com o calor e o vento. O canto da cigarra e o cri-cri dos grilos estancam e os primeiros pingos caem grossos.

Joana se sente feliz como há muito não sentia. Sozinha em seu quarto, só o abajur com cúpula abaulada de crochê rosa aceso, ela deita na beirada de sua cama com os braços para cima. Abre as pernas, levanta a saia e deixa o vento entrar em seu ventre. Tira a calcinha para sentir o ar lamber suas intimidades, eriçar seus pelos curtos e finos. Ela gosta. Espreguiça de prazer, se contorce e torce para que o ano novo que está à espreita lhe dê de presente os seus desejos mais profundos e caros, aqueles que não se compram com dinheiro.

A chuva molha o chão de tábua de madeira, Joana se molha de prazer. Levanta para fechar a janela. Fecha só o vidro para ver a água escorrer. Ela sente uma quentura e um pequeno corrimento viscoso por entre as pernas, que aperta uma contra a outra imediatamente. Ela lembra quando fez amor com seu amado, no dia anterior. O gozo jorra fácil com ele. Seus lábios secam, descascam porque eles se veem pouco e a pele de Joana é sensível, fica fina rapidamente.

Ela anseia pelo próximo encontro, o próximo beijo, os braços que abraçam gostoso todo o seu torço, todo seu corpo. Ela se sente livre e leve com ele. Gosta. Procura. Quer. Deseja. Ele não diz nada, mas ela enxerga tudo nos olhos dele. Ela está tomada pelos sentimentos dos amantes.

A chuva engrossa e seus pensamentos fazem seu sexo entumecer. Abre mais as pernas e as dobra sobre a barriga. Acaricia seus pelos, seu púbis, pensa no seu amor a possuindo. Ela quer. Ele está longe. Ela não sabe se ele volta e quando. Não pergunta. Só quando os olhos de ambos se encontram eles sabem o que pode acontecer. Calados continuam, calada ela sublima seu desejo. A chuva diminui. Joana sente seu gato roçar sua pele. Ele busca carinho. Ela também.

Claudia Bergamasco é escritora e jornalista

 

Prev Post

Por que você não olha…

Next Post

Criare Móveis Planejados inaugura loja…

post-bars

Leave a Comment