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Jundiaqui

 O Museu do Ipiranga
22 de setembro de 2021

O Museu do Ipiranga

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Enquanto vivemos esse tedioso isolamento social em tempo de pandemia, já é possível fazer uma visita virtual ao Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, que esteve fechado ao público durante uma longa reforma. Não apenas o prédio foi restaurado como a exposição do acervo passou por uma sofisticada reformulação museológica. E a história do museu tem passagens pitorescas.

Proclamada a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, naquele mesmo ano começou a ser debatida a ideia de construir um monumento comemorativo, no exato local onde Dom Pedro I puxou a espada e soltou um destampatório do qual os manuais de história repetem apenas a frase “independência ou morte”. Já em 1823, José Bonifácio autorizou uma subscrição pública para custear o almejado monumento. Não deu em nada.

A ideia do monumento deixou de ser apenas um sonho em 1873, quando a Câmara Municipal de São Paulo nomeou uma comissão de 28 membros para pôr a ideia em prática. A Comissão do Monumento decidiu que não deveria ser uma escultura e sim um edifício-monumento, que serviria como espaço cultural. E escolheu para fazer o projeto o arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi. Tudo isso tomou tempo, somente em 1882 o projeto foi aprovado pela Comissão, sendo então lançada uma primeira pedra fundamental, em 10.10.1882. Mas a execução da obra parou nessa pedra. Por alguma razão, em 1883 a Comissão nomeou um grupo de engenheiros para fazer algumas alterações no Projeto Bezzi. Entre eles o italiano Luigi Pucci.

Em 9.8.1884, assumiu a presidência da Província de São Paulo o Conselheiro José Luiz de Almeida Couto. Homem dinâmico, o Conselheiro Almeida Couto realizou numerosas obras públicas. Dentre essas obras, destaco para os leitores do JundiAqui a reforma do Palácio do Governo e a construção do “Prédio Novo” da Academia de Direito (substituído pelo atual nos anos trinta do século passado). Destaco essas duas obras porque ambas foram projetadas pelo engenheiro francês Eusébio Stevaux, radicado no Brasil em 1851, que tem descendência em Jundiaí, onde a família Stevaux é muito conhecida. Aliás, o Conselheiro Almeida Couto também tem descendentes em Jundiaí: os Machado Menten.

Em carta endereçada a Dom Pedro II, datada de 23.11.1884, a Princesa Isabel relata uma visita ao Ipiranga, feita por ela, pelo Príncipe Luís Filipe Gastão de Orléans, Conde d’Eu, e pelos dois filhos mais velhos do casal, Dom Pedro e Dom Luís. Nessa visita, Suas Altezas foram acompanhadas por um pequeno grupo de pessoas, entre as quais o Presidente da Província e o arquiteto Bezzi.

Diz a Princesa Isabel, nessa carta: “Quando o belo monumento, de que o Bezzi me mostrou o plano, estiver pronto, e daí houver um boulevard até o Brás, poderemos dizer que temos com que comemorar dignamente o fato da Independência do nosso País”.

Sabendo o quanto aquele monumento era desejado pela Família Imperial, os políticos republicanos fizeram o possível para sabotar a execução da obra. Mas o Conselheiro Almeida Couto atropelou todas as chicanas e, no dia 25.3.1885, assentou nova pedra fundamental, usando uma trolha cerimonial maçônica que mais tarde passou a fazer parte do acervo do Museu. E dessa vez a obra não ficou na pedra fundamental, foi executada.

No mesmo dia 25.3.1885, o redator do jornal “A Província de São Paulo” (hoje Estadão), o festejado jornalista Rangel Pestana, que era um republicano fanático, publicou na primeira página matéria desabrida em que acusa o Conselheiro Almeida Couto de dar andamento ditatorial à obra, atropelando a Assembleia Provincial, e, de quebra, faz um ataque xenófobo ao engenheiro responsável, o italiano Luigi Pucci. É surpreendente que um jornalista tão festejado tivesse ideias tão mesquinhas e, pior ainda, que escrevesse tão mal: os anacolutos que tornam a leitura um verdadeiro exercício de hermenêutica, a pontuação errática e o emprego de letras minúsculas onde deveriam ser maiúsculas são inacreditáveis.

Atenção: estive falando a respeito do edifício-monumento em que está instalado o Museu Paulista. Aquele conjunto escultório que hoje é conhecido como o Monumento do Ipiranga foi feito depois.

José Luiz de Almeida Couto

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