Por Kelly Galbieri

Não sei se todos viram, mas a Natura, preparando sua campanha do Dia dos Pais, contratou o jovem pai Thammy Miranda para ilustrar a data. Ele, que é um homem transexual, aquele que todos conhecem como o “filho da Gretchen”, teve com sua esposa, em janeiro deste ano, um bebê, nascido em Miami, nos Estados Unidos, e está feliz da vida, curtindo a paternidade.

Como nasceu, de quem era o espermatozóide, se a Andressa (sua esposa) teve parto normal ou cesárea pouco nos importa e muito menos para a tal campanha. A Natura está mostrando o que é ser pai. E prova que vai muito além do gênero e sexualidade.

Sei que tenho propriedade para falar sobre o tema, afinal passei sete anos da minha vida como conselheira tutelar, mais três como diretora jurídica em um grupo de apoio à adoção, sou mãe (e também fui meio pai, afinal fiquei viúva aos 34 anos de idade), sou filha de um pai e uma mãe que vivem juntos há cinquenta e dois anos, tenho parentes, amigos, todos pais, e posso nomear aqueles que são tão pais como o Thammy demonstra ser em todas as redes sociais e na vida pública.

Não é segredo para ninguém que defendo com unhas e dentes a comunidade LGBTI e, por isso, fiquei muito feliz com a coragem e o vanguardismo da Natura. Vi ali a porta do preconceito se fechando e uma janela de esperança (ainda que se veja uma fresta de luz aparecendo) abrindo.

Um homem trans é um homem, e portanto, vão comemorar o Dia dos Pais, como os homens cisgêneros. Oras, entendo perfeitamente que muita gente não compreenda direito o que é ser um homem trans e então fique confuso. Então porque não perguntar, ler um artigo, um livro, abrir o Google, ligar para mim ou para qualquer outra pessoa que esteja envolvida com a causa e se informar? Ou então apenas se abster de comentários. Ótimo também.

Nós vivemos em uma democracia (às vezes) e temos o direito de achar isso ou aquilo “demais para nossa idade”. Mas começar a propagar o ódio por conta de uma campanha publicitária onde apenas se divulga amor, não dá! Não entendo isso.

Recebi um vídeo de um garoto egoísta e ignorante (no sentido literal da palavra) que não aceita que a Polícia Federal coloque no formulário a palavra “Genitores”. Ele quer que voltem os termos “pai” e “mãe”, sob a alegação de que estão destruindo a família…

Meu Deus! Que família inconsistente tem esse rapaz. Apenas essa mudança destruirá tudo o que ele aprendeu e sentiu pelos seus genitores. Ele nunca viu uma família de verdade, seja ela homoafetiva, heterossexual, com pais transexuais ou cisgêneros. Tenho certeza. Amor não se define através de gênero, de sexualidade. Filhos querem exemplos de pais que não sejam corruptos, ladrões, que se importem com os outros, que amem, que tenham sua religião, que ensinem a amar, a respeitar seus amigos, independente de raça, cor, credo, que lhes dêem exemplos.

A Natura nos mostrará nesta campanha que o Thammy é um pai como qualquer outro, que pode errar, acertar na educação de seu filho. Que pode ser feliz para sempre com sua esposa ou se separar como alguns outros. Ele é um ser humano. E merece respeito. Aquele que não enxerga isso, definitivamente deve procurar o seu Deus, pois Ele está em todos nós, mas em alguns está escondido. Chega de tanta preocupação com a vida do semelhante e comecemos a preparar a nossa para aceitar as novas formas de família. Família é onde existe amor!

FELIZ DIA DOS PAIS, THAMMY MIRANDA!

Kelly Galbieri é advogada e assessora de Políticas para Diversidade Sexual de Jundiaí