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Jundiaqui

 A presença do Divino
1 de junho de 2020

A presença do Divino

Por Wagner Ligabó

Uma fria manhã de domingo. Saio de casa para ir até o hospital. Vago por ruas vazias, desertas. O vento frio gela meu corpo.

Ando com a alma em desassossego, triste mesmo, por motivo de doença na família. Muitas vezes nossa impotência ante determinadas situações nos colocam de joelhos em prece.

Cumprida minha missão e afazeres de rua, volto ao lar dirigindo lento, taciturno, olhando as calçadas sem ninguém. Sensação de vazio extremo. Solidão que incomoda neste domingo gelado. Olho o painel do carro que aponta 12 graus.

Ao parar em um farol fechado da avenida Jundiaí, do nada, passa a meu lado um senhor maltrapilho de barbas longas, sóbrio, olhar penetrante, usando máscara de pano batido, puxando um carrinho com quase nada dentro. Pensei que fosse me pedir esmola, mas simplesmente, de modo sereno, sorriu para mim. Tive a nítida percepção de paz extrema.

O momento me intrigou, o farol abriu, e o vi solitário seguir pelo retrovisor. Uma sensação de fé extrema tocou meu coração e me fez fazer o retorno e ir a seu encontro. Era o sinal da presença do Divino.

Desci dois quarteirões para reencontrá-lo. Estacionei o carro esperando sua presença. Ele se aproxima lentamente e eu clico fotos de dentro do carro. Ele percebe minha presença e me olha fixamente.

Ao passar a meu lado, o seu mesmo jeito sereno, me olha atentamente e nada pede.

Abrindo vidro, inicio um diálogo. Precisava ouvir sua voz:

– Você não está com frio?
– Não senhor. A gente se acostuma à vida, ele responde.
– Você está com o nariz de fora da máscara, alerto.
– Ele diz: o ar puro sempre me fez bem. É da natureza. E não tem ninguém por perto.
– Já emocionado lhe pergunto: o senhor está com fome?
– Ele responde: o alimento chega sempre na hora certa!
– Insisto: o senhor tem dinheiro?
– Com calma diz: não. Mas tudo tem sua hora certa, não se preocupe. E sorri mais uma vez.
– Com lágrimas nos olhos lhe dou cinquenta reais, ele sorri e, emocionado, vejo lágrimas em seus olhos também. Momento único. Desejo-lhe boa sorte, ao que ele agradece elevando a mão direita em meio a sua barba branca e, num gesto simples, me abençoa sem eu pedir.

Ele segue seu caminho, eu me perco em pensamentos de gratidão e, quando olho pelo retrovisor, ele já havia sumido.

Tive a plena convicção que falei com Deus. O manto sereno da tranquilidade aconchegou meu coração. A paz reinou ao meu redor.

Milagres acontecem. Eu presenciei o Divino em sua materialização humana. Alicerçou minha fé tão abalada, na certeza da melhora deste mundo tão atribulado. Alavancou minha alegria em crer que a esperança existe.

ELE me possibilitou a infinita bondade de tê-lo a Seu lado. Bendito sois vós na hora da nossa vida e morte, amém.

Wagner Ligabó é médico cardiologista e vereador

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