LOADING...

Jundiaqui

 AZUL
18 de abril de 2022

AZUL

Por Wagner Ligabó

A vida é permeada de lembranças, realidades e esperanças, pintada em suave relevo com especial paleta com todas as nuances e tons de cores.

Cada um de nós é uma tela particular, com expressão e colorido completamente diferentes de qualquer outro semelhante. Somos únicos na coloração de nossas vidas. É como impressão digital: cada um tem a sua, do nascimento até a morte.

Entretanto, quando nos olhamos introspectivamente todos temos uma cor predileta. Aquela que mais se sobressai na pintura. O meu chip vital tem a cor azul.

Quando leio sobre o simbolismo do azul encontro inúmeras confluências com virtudes da minha personalidade, mas com os desalinhos também. A cor azul traz em sua vibração criatividade e alegria. Em altas doses te torna mais assertivo, compreensivo e seguro.

Outros predicados, como devoção, fé, aspirações elevadas, sinceridade, confiança e tranquilidade, também fazem parte do seu repertório.

Afirmam que o azul é a única cor que tem o poder de desintegrar energias negativas, favorecendo a paciência, a amabilidade e a serenidade, e é aí que, por vezes, vejo que está na hora de renovar meu estoque de azul.

Mas, mesmo em baixa, adoro azular! É ou não é? Qual a pergunta otimista que se faz para saber se está tudo bem? É uma só: “E aí, tudo azul?”.

Quer mais alegria da certeza que o resplandecente céu azul de hoje se apagará no escurão da noite, mas, faceiro, voltará amanhã radiante como sempre? E a imensidão dos mares e oceanos com seus mistérios e encantamentos, seriam tão majestosos caso não fosse o colorido de seu azul de todos os tons? Mar Negro, Mar Vermelho? São nomes invejosos só para desdenhar do “todo azul do mar”.

No meu guarda-roupa a maioria absoluta das calças e camisas é em tom azul e eu tenho preferência explicita por elas, mesmo velhinhas. Na maioria das fotos sempre apareço com alguma peça trajada em azul! Meu contrabaixo é azul! Meu boné preferido é azul!

Mas veja só: o verdadeiro ‘jeans’ não é o azul “índigo blue’?! A Gillette sempre não foi azul? Blue Blade? Pois é! E a sorte que o azul te traz? Tenho exposta no meu bar uma coleção de variados “olhos gregos”, além de um fixo na corrente, doce superstição herdada de minha mãe com carinho, e ela sabia das coisas. Olho grego e seu enigmático azul dá sorte? Dá!

A maioria, se pudesse, optaria por ter olhos azuis! É cativante; faz a diferença. Frank Sinatra era encantador pela voz, mas seu famoso símbolo era “The Old Blue Eyes”! Meu neto Xandinho tem lindos olhos azuis! Meu ídolo Elton John compôs “Blue Eyes”. Enfim, tudo o encantamento se resume na paz e na magia que a cor azul induz.

Relembro o inesquecível “Baile Azul”, super baile surpresa em 2007 comemorativo dos 80 anos de minha mãe, evento que causou furor lá em Porto Ferreira. Era exigência do convite que todas as mulheres deveriam trajar azul e homens, em traje de gala, com algum adereço em azul. Foi lindo que só ver o azul bailar e se emocionar.

Lembro uma cena de anos atrás. Era uma tarde de domingo ensolarada, eu e minha netinha Bibi, lado a lado, espreguiçados nas cadeiras de sol lá no quintal de casa, quietos olhando o céu. Foi quando ela disse de súbito: “Olha lá aquela nuvem, vô! Tem a letra do seu nome!”. Realmente parecia em W bordado no céu! Olhei fixo então para cima e para dentro de mim e pensei: assim será o meu chamado um dia! O azul me imantará até ele!

Hipnotizado, olhando profundamente nos olhos daquele azul lindo que só, lhe confessei baixinho: chegará o dia que aí estarei e sabe qual será meu maior desejo? Me perder, sem medo, na imensidão deste seu azul! Abracei minha neta, o futuro incerto a minha frente, e uma lágrima sobrou em meus olhos.

A tristeza é cinzenta, mas viver, seja onde estiver, é azul.

Wagner Ligabó é médico cardiologista

Prev Post

“Nininha por esse mundão”: para…

Next Post

Três formas de reduzir o…

post-bars

Leave a Comment