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Jundiaqui

 A delicadeza da amizade
15 de junho de 2019

A delicadeza da amizade

Por Wagner Ligabó

Passamos por esta via e a todo instante vamos fechando ciclos e fazendo o necessário balanço do que valeu a pena e o que é descartável. A gente envelhece e a conta fica cada vez mais complicada.

Nos dias de hoje, quando as relações interpessoais em sociedade foram perdendo lugar para as inter-relações virtuais, onde o WhatsApp e similares do gênero tomaram a missão de ser seu representante para conversar com quem está na cozinha, sendo que você está na sala, mostra como a verdadeira afetividade humana perdeu valor.

Nunca se cultuou tanto o ego como agora.

Os indivíduos não cansam de autorretratos em “ selfies” sem fim, se admiram como Narcisos e Narcisas e ao postarem na rede social querem de todos a mesma admiração egocêntrica que lhes dá motivação a vida. Tá difícil…

Aí vem a pergunta: o que são amigos hoje? Uma espécie em extinção. No mundo atual hábitos individuais – “ o eu com eu mesmo” – e os milhares de “amigos” do Facebook vale mais que uma boa amizade de carne e osso. Ficar olhando para a tela do celular selecionando mensagens de bom dia representa muito mais que dar um bom dia a quem está ao seu lado.

O velho ditado de que amigos verdadeiros cabem nos dedos de uma mão nunca foi tão pontual. Atualmente estão sobrando dedos. Ninguém precisa mais de ninguém, a não ser na hora do aperto. Aí o corporativismo sadio é necessário. Mas é só até a hora de resolver a pendência. Daí volta-se à estaca anterior do “eu me amo”!

O que se vê hoje? Relações frias e ocas, papos vazios fruto por se ler pouco – somente o que interessa, pouco amor e pouco compromisso pela facilidade de sexo mecânico e descartável ao alcance da mão. Tudo tem aspecto descartável. Exploração e vantagens sobre o próximo em nome de benefício próprio virou regra.

A era cibernética deste novo milênio elegeu o individualismo como peça chave. A regra para se dar bem é simples: tolero quem não me atrapalha e destruo quem age ao contrário. Aí a pessoa se pergunta: está bom? E ela mesmo responde: está ótimo! É o suficiente!

O bem querer sincero foi ferido de morte. Pergunte ao Google a opinião dele sobre o assunto. Ele passou a ter sempre razão. É o Grande Mestre que não gosta de ser questionado sobre este tipo de assunto.

A idade me chama a viver de maneira simples. É quando bate a vontade de largar tudo e buscar o Shangri-la. Porém ainda existe momentos especiais. Ontem, em meio a este ambiente hostil, posso dizer que minha recompensa por ainda viver à moda antiga, aquela dos costumes verdadeiros, fruto da educação de berço onde as pessoas se conversavam com respeito, conteúdo e franqueza, senti meus cabelos brancos premiados.

Em visita ao meu amigo verdadeiro, o mestre das artes Inos Corradin, após longa conversa sobre tudo o que se possa imaginar – da política podre à literatura de qualidade; do cotidiano atribulado à religiosidade de fé sincera; da doença matreira à saúde necessária, sem faltar fartas risadas pelas piadas de intermédio, passaram-se duas horas num supetão. São estes momentos que engrandecem e rendem frutos. Tem-se a sensação de alma leve.

Entretanto o que desejo registrar aqui foi a nossa despedida, onde o grande italiano disparou uma frase que acertou meu coração com dardo certeiro, o maior presente que alguém poderia receber.

Olhando-me com sorriso fácil acomodado em sua cadeira conforto, companheira fiel das agruras de saúde que lhe afetaram até outro dia, ao apertar minha mão com dedos tingidos por tinta, veículo de sua arte divinal, disse-me sereno com sua tradicional voz rouca: “- Ligabó ! Você é meu melhor amigo!” Me conte: dizer o quê? É o prêmio maior da loteria da vida!

Fiquei muito emocionado não apenas por ser ele o mestre Inos, este ser indescritível! Fiquei radiante pelo fato de que uma grande amizade supera tudo que este atual mundo inóspito cisma em nos retirar. Amizade neste patamar é a joia a ser buscada. Estou rico!

Um momento divinal diluído em simplicidade. O coração agradece!

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