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Jundiaqui

30 de julho de 2018

Movimento Trans

Por Kelly Galbieri

O nome já assusta os fundamentalistas de plantão, mas como tudo nesta vida, entendo que antes mesmo de julgar, se deve conhecer ou ao menos ler a respeito, para que se tenha argumentos para ir contra ou a favor de qualquer assunto.

Quem só enxerga este movimento como luta para modificação de corpos não tem ideia da mudança de vida que significa para uma pessoa discutir e reavaliar o conceito de masculino e feminino, de homem e mulher: ou seja, de gênero.

Estive na última semana em um congresso internacional da ABRAFH (Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas), e, portanto me dou o direito de dar algumas opiniões a partir da vivência de cada uma das pessoas transgêneras que ali partilhei a companhia por cinco dias.

Esta luta trata de corpos que se afirmam trans mesmo sem cirurgia ou sequer hormônio, luta para que homens trans não precisem ir de encontro ao que a sociedade espera fisicamente de um homem; ou seja, abrindo mão de disfarçar seus seios; ou mulheres trans que não são menos mulheres porque ainda têm pelos faciais (e que talvez sempre terão, por pura opção).

E há ainda alguns transexuais que não se importam sequer com o seu nome de registro. Podem ter sua expressão de gênero feminina chamando João ou expressão masculina chamando Maria. Tudo bem também! O que importa é estar bem! Se sentir bem, se sentir confortável naquela posição!

O que surpreende são as frases que se ouve por aí sobre este movimento de conquista para a população T, como: “querem aparecer”, “isso é falta de limite dos pais”, “uma modernidade exagerada”, “é falta de surra”, “não sou obrigado a conviver com isso”, “que desperdício” (quando a pessoa é muito bonita, esteticamente falando), “mas precisa se vestir assim?”

Ora, ninguém vem ao mundo para ser infeliz, para desejar tomar hormônios para se sentir melhor ou até mesmo querendo ser operado para sua readequação. Isto é, desde cedo, uma luta internalizada até sua própria descoberta e aceitação e depois uma luta durante toda a vida com a sociedade.

Não há um pedido de travestis, transexuais, transgêneros para que todos entrem nesta luta; basta que sejam respeitados, que não tenham seus direitos suprimidos por absoluto preconceito e falta de conhecimento.

Imaginemos que uma pessoa intersexual (antigamente se chamava hermafrodita) nasça com os seus dois órgãos sexuais e logo após o parto, o médico com a família decidam extirpar um deles (prática usada até hoje confrontante com a legislação vigente). Será que em 100% das vezes médico e família acertaram e retiraram o órgão correto? É claro que não. Então imaginemos como fica essa pessoa, já criança, adolescente, adulta, com o órgão “errado”, já que ela se sente, ela É do gênero contrário àquele que lhe foi determinado ao nascer por terceiros, sem o seu consentimento ou questionamento.

Só para se ter ideia da gravidade da situação, a cada 50.000 pessoas que nascem anualmente, 2.000 são intersexuais. Então não podemos fechar os olhos para esta grande parte da população. O negócio é conhecer antes de julgar. Eu estou nessa!

Kelly Galbieri é advogada e assessora de Políticas para a Diversidade Sexual de Jundiaí

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