Mudança de pele
Você já deu, 2018. Agora é a vez do novo tomar conta. Que venha logo 2019!
Cláudia Bergamasco
Já não era sem tempo.
Você, 2018, tinha mesmo que ir embora. Para mim, os seus dias parecem ter sido um buraco negro: nada de bom, só o vácuo e as sombras aflitas
Eita, como você foi ruim comigo, 2018, Deus há de concordar
Muita coisa, demais, aconteceu tudo junto e misturado
Outras aos poucos, ao longo dos seus 365 intermináveis dias
Foi difícil aguentar
O melhor agora é trocar o chip, rodar o dial, trocar de canal, comprar um novo HD, virar a página, desenhar uma nova vida
Trocar de pele, como fazem certos animais de tempos em tempos
Trocar de casca, como fazem certas árvores de tempos em tempos
Para renascer fortalecidos, sermos melhores
Esquecer o que passou, partir para outra
Para outro ano
Outras expectativas, esperanças renovadas, outra pele
Segurança, solidez, solicitude, solidariedade, paz
Essas são algumas das coisas que a gente quer quando um ano termina e outro começa
Saúde também
Mais amor também
Novos amores, quem sabe
Embora o amor seja uma loteria, a mais difícil delas
Novas viagens, novas perspectivas, novos olhares sobre coisas antigas
Soluções à vista
Novidades por aí
Quando?
Quem saberá? Desconfie de quem diz saber
O que sei é que, desta vez, eu domino. Você nunca mais me dominará
Quero que todas as redes e enredos do mal, inúteis, virem nuvens azuis e fluidas com formas de animais, os mais variados e lindos, e que nos tragam somente alegrias
Nuvens como um grande algodão doce: coloridas, brilhantes por raios solares com efeito de gliter multicor. Igual à nossa vida daqui para frente
Basta de perseguições. Baboseiras que não levam a nada a não ser o estresse que adoece, deprime, entristece, endoidece, gera dor
Chega! Agora é a vez da luz
De andar descalça na terra, na grama, na areia, na água, na piscina, no mar, nas pedras
Tempo de fechar os olhos por um segundo, ver tudo o que passou por um segundo, como num filme, e não repetir esse déjà-vu
Nada de retrovisor, de retrospectivas
Sem que a gente entenda direito, 2019 já nos acena dias de uma vida íntegra, de estar no comando do leme, de decidir o curso das nossas vidas
Neste péssimo ano de 2018, curvei-me para frente e para trás, tentei ver se poderia descobrir algo por lá, mas a escuridão que havia ali não me permitiu fazê-lo
Ok, faço mea culpa e admito que houve muitos momentos de procrastinação
Escrevi amontoados à vontade. Nada publicado
No entanto, em meio às agruras deste 2018, aprendi que um desejo constante de se surpreender com o mundo cotidiano tem o poder de deixar cada momento de nossa vida muito mais rico, excitante
Tive muitas recaídas. Não é preciso ser Freud para saber que desejos sexuais podem ser sublimados na forma de ambição e outras paixões
Não, eu não me apaixonei por nada nem ninguém (quem dera), mas não deixei de querer. Ainda quero
Querência é quase tudo que a gente precisa para a coisa dar certo
Aquele empurrãozinho
Quando o relógio bater meia-noite do dia 31 de dezembro, estarei ali, viva, vendo os fogos, o novo se firmar e ir se fortalecendo
Que 2018 termine e tudo recomece de forma pulsante, estimulante, feliz em 2019
Sempre olhando para frente
Flertando com as emoções, os desejos
Que, certamente, hão de se concretizar
Sempre
Todos os anos das nossas vidas
Felicíssimo 2019!
Cláudia Bergamasco é escritora