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Jundiaqui

 Mulheres do Egito
4 de fevereiro de 2022

Mulheres do Egito

Por Kelly Galbieri

Impossível iniciar este texto sem citar nosso maravilhoso Chico Buarque, que em sua música “Mulheres de Atenas” descreve a vida de cada uma delas. Tantas semelhanças com as mulheres egípcias, tantas concessões feitas por todas, tanta inteligência (opinião minha, evidentemente).

Estive no mês de janeiro visitando o Egito, passeando por Cairo, Aswan, Edfu, Luxor, Kom Ombo e Abu Simbel. E, a cada local, ficava me perguntando como podem ser tão diferentes os usos e costumes para nós, mulheres, dependendo do lugar do mundo onde se esteja. Algumas vezes fiquei surpresa com tamanha submissão, mas resolvi ampliar meu olhar e enxergar a inteligência delas.

Assim como as mulheres de Atenas, as egípcias também “vivem para seus maridos”, com a diferença de que, no Egito, um homem pode se casar com até quatro mulheres. Então, na teoria, ela estará com seu marido apenas uma semana por mês. Ele deve se dividir entre as esposas que escolheu. Há sim a “esposa preferida”, que não necessariamente é a primeira com a qual se casou. Mas vale dizer que, tudo o que oferecer a uma delas, deverá ser dado igualmente a todas as outras, já que não pode haver “diferença” entre elas.

Conferi também que, hoje em dia, não é tão comum um homem ter esse excessivo número de esposas, justamente porque não consegue mais manter financeiramente quatro casas. Então esta tradição vai perdendo força, mas por questões exclusivamente econômicas.

Visitei a famosa Vila Nubia, um dos lugares mais incríveis que já conheci. O povo núbio é um dos mais antigos da África, isolado hoje às margens do Nilo para conservar suas tradições. Imaginem um lugar onde os bichos de estimação são crocodilos… simmmmmm!

Em uma das casas que visitei, tinham dois crocodilos em uma jaula no quintal. Detalhe: a jaula era praticamente do tamanho dos animais, sem sobrar espaço para grandes reviravoltas do bichinho… As casas desta vila são muito coloridas, com chão de areia e as cúpulas ovaladas para proteção contra o sol do deserto. Na rua há uma disputa por espaço entre carros e camelos (estes, bonitos, com adereços coloridos). A anfitriã recebeu o grupo, para mostrar a casa e suas tradições, com uma iguaria típica local: um pão maravilhoso e três acompanhamentos interessantes: melaço, tahina e o outro já me esqueci, além de chá.

Mas o mais interessante é a cultura familiar que até hoje se vive ali. Quando há casamento de alguém da vila (geralmente casam entre as próprias pessoas que ali residem para que a tradição não se acabe), a noiva é quem vai morar na casa do noivo. Ao passar pela porta de entrada, a noiva já sabe quem é que dará as ordens a partir daquele momento: sua sogra. Imaginem que a sogra a espera, com os braços estendidos, para que a nora passe por debaixo e saiba que lhe deve submissão. Daí para a frente a sogra é quem determina o que cada mulher da casa terá como função na residência. O sogro é o responsável pela divisão dos salários dos homens da casa, ou seja, o noivo recebe seu salário, entrega ao pai que decidirá quanto deve voltar para sua nova família. Foi neste momento que passei a tentar abrir o meu olhar e entender como uma mulher pode ser feliz vivendo em uma casa com sogro, sogra, cunhados, cunhadas, filhos, filhas, sobrinhos, sobrinhas. E entendi que estas mulheres são realmente inteligentes. Minha filha chegou a questionar este meu posicionamento naquele momento, mas qual outra opção elas têm?

Por serem criadas e educadas nesta vila, preservando sua cultura, penso que haja muita inteligência em conseguir passar a vida toda neste ambiente e ser feliz… claro que, para aquelas que são. Elas não têm a liberdade de ir para outro país tentar a “sorte” ou de não aceitar este estilo de vida. Então, o que lhes resta? Se rebelar e ser infeliz ou aprender a ser feliz… e vi no olhar de tantas delas a felicidade!

Tive uma outra surpresa interessante naquele país: as pessoas (independentemente de serem homens ou mulheres) se aproximavam de mim e da minha filha pedindo para que saíssemos em alguma foto com eles/elas. Fiquei curiosa (aquela dúvida de brasileira: o que farão com essas fotos?) e então o guia local nos esclareceu que os egípcios/as ficam encantadas quando vêem mulheres loiras, já que ali, elas estão sempre cobrindo a cabeça e não há essa história de tingir o cabelo. Então éramos vistas como “diferentes”.

Além destas observações feitas, outras tantas me chamaram a atenção. Cheguei naquele país e senti frio (praticamente todos os dias a temperatura me surpreendeu). Quis então comprar uma blusa, algo como um moleton, jaqueta ou qualquer coisa que esquentasse. Que nada… as roupas que são vendidas para as mulheres são exclusivamente vestidos longos e largos, que cobrem ombros, peitos, barriga e joelhos o tempo todo. Conclusão: passei frio até o último dia, uma vez que a pashmina “quebrou o galho”, mas não foi suficiente.

E, por fim, não posso terminar sem comentar uma percepção que tive logo nos primeiros dias: os vestidos de noiva são vendidos em muitas lojas, mas todos eles são de manga comprida, coisa incomum aqui no nosso país, não? Tudo bem que vivemos em um país tropical, mas nem no inverno usamos. E lá, por estarem sempre cobrindo o corpo, é o modelo tradicional. Vestidos lindos, brancos e de manda comprida.

Enfim, as culturas diferentes sempre me encantam, mas este país, confesso, me deixou maravilhada. Afinal, aprendemos sempre com os desafios que as mulheres enfrentam em qualquer lugar do mundo!

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