Por Kelly Galbieri

Quero escrever como se estivesse em férias. Afinal, desde os meus quinze anos de idade trabalho “fora”, portanto nunca fiquei tanto tempo em casa. Se tiro férias, viajo, saio de casa, passeio… mas ficar tanto tempo sem sair, acho que nunca fiquei. E quero continuar pensando que estou em férias, arrumando minha casa, meus armários, minha vida.

Além do trabalho que tenho feito no horário comercial, além de ajudar na vacinação dos idosos, estou pela primeira vez em anos e anos olhando para o que tenho guardado, para as recordações, para as roupas, sapatos, bijouterias, talvez os excessos que comprei ao longo da vida. Tem coisas que tenho de quando era solteira (e olha que este ano eu teria feito 30 anos de casada… oh meu Deus… para que guardar as coisas tanto tempo?).

Mas parece que todos nós, que não tínhamos tempo para nada, que anotávamos na agenda até mesmo a hora que queríamos tomar uma vitamina (senão obviamente esqueceríamos, dada a correria do dia a dia), agora podemos acordar e perceber o som dos passarinhos, pudemos e tivemos que desmarcar todas as reuniões, encontros, cafezinhos, visitas até mesmo aos nossos pais. E tudo isso sem nos sentirmos culpados. Muito pelo contrário; isso sim é uma forma de demonstração de amor.

Tudo aconteceu tão rápido e ainda assim parece que nem todos se aperceberam da gravidade da situação. Não sei se para alguns têm mesmo um valor diferente. Mas algumas coisas que para mim no mês passado eram importantes, hoje não são mais.

Acompanhar nos noticiários a morte de tantas pessoas me trouxe a lembrança do que já vivi, então não tenho tempo e nem disposição para algumas questões simplórias. Penso que depois que tudo isso passar, ao menos para mim, um aprendizado enorme ficará. Em todos os sentidos: material, espiritual, sentimental, em relação ao trabalho, aos amigos, à família. Talvez todos estejam pensando assim. Afinal, serão longos dias ainda pela frente, pelo jeito.

Mas até nestes momentos encontramos motivos para nos alegrar. Nestes dias que tenho trabalhado na vacinação, conheci cada pessoa incrível… formamos uma turma tão engajada, ninguém quer saber de descansar, nos encontramos diariamente com sorrisos no rosto e muita disposição para receber os velhinhos (alguns nem tão velhinhos assim) e não importa até a hora que tenhamos que trabalhar. Não parece um trabalho… é fantástico! Fiz mais um tantão de amigos!

Entramos agora na Semana Santa e quero pedir a Deus que olhe por todos nós. Ouvi pela manhã neste domingo (5) a missa do Papa Francisco e ele se dirigiu na sua homilia aos jovens, dizendo que prestem atenção aos verdadeiros heróis, pois não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso e sim aqueles que se dedicam ao próximo. E por duas vezes disse que a maior alegria é dizer sim ao amor sem SE nem MAS.

Vamos rezar para que tudo isso passe e que todos nós estejamos juntos na Páscoa. Mais fortalecidos e unidos! Amém!