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Jundiaqui

 Para alguns perder o celular parece ser mais triste que perder alguém da família
27 de junho de 2020

Para alguns perder o celular parece ser mais triste que perder alguém da família

Por Wagner Ligabó

Fico a questionar palavras tão em voga atualmente: “isolamento e distanciamento”. Num momento tão atípico como desta maldita virose, elas já foram importantes, entretanto agora perderam força para uma grande maioria de pessoas que diz: “já deu, né?”

Enjoou ficar isolado em casa distanciado de amigos, de poder passear, ir a restaurantes e shopping centers! Chega! É assim como bradam, pensam e agem. Em resumo: o “ novo coronavírus” tornou-se velho para esta tribo. Tornou-se algo comum, um mal já incorporado ao cotidiano como tantos outros e já não se dá tanta bola. Não assusta mais. Desgraça proscrita. Optaram pelo aleatório. Algo como loteria do azar: só pega quem tem má sorte! E vida que segue!

Ver na TV que pela doença até agora já morreram mundo afora mais de 480 mil pessoas – com o detalhe que mais de 50 mil foram no Brasil – isso não incomoda mais. Talvez possa entristecer algum incrédulo caso venha perder alguém da família pela Covid-19, mas pelo que venho presenciando há um bom tempo na reação de muitas pessoas, não será encarado como algo tão desesperador assim. O conformismo mudou de cor.

E aí questiono: por onde anda o amor verdadeiro entre pessoas? Na minha lida diária como médico é notório que esta riqueza perdeu força em sua essência. Já não se gosta mais como outrora. Pode acreditar.

Mas qual o motivo para este verdadeiro bem querer estar em queda? Neste quesito as palavras “distanciamento e isolamento” têm outro significado e assumem real importância. A causa? A vida digital! A vida internet! A saga inebriante do novo milênio!

Nos dias de hoje ninguém é nada sem seu “móbile”! É algo assustador! É uma paranoia tamanha a ponto tal de que para alguns perder o celular parece ser mais triste e arrasador que perder alguém da família. Alienação é o termo apropriado. Tudo se resolve com um clique!

A paixão pela tela do celular é um fenômeno que em boa parte das pessoas hipnotiza, vicia e imbeciliza, tornando-as vazias em ideário, além de artificiais em muitos de seus sentimentos verdadeiros de vida. Parece não existir vida inteligente sem a presença do celular à mão ou colado no bolso de trás da calça jeans.

Individualidades cada vez mais marcadas pelo vácuo do obsoleto. Triste mundo. Cada um, cada vez mais, com sua imagem refletida em espelho com sua egolatria tão necessária. Assim sendo o que resta é, cada vez mais, isolamento individual, com relacionamentos interpessoais descartáveis, insípidos e inodoros, e consequente maior distanciamento natural a cada troca. Ciclo vicioso sem fim.

E nossas crianças?

Meros mini-robôs estimulados pelos pais, porque o sistema operacional atual assim impõe e lhes convém. Vejo fotos amareladas do passado. Pular amarelinha? Esconde-esconde? Pular corda? Jogar taco? Nunca mais…

Verdadeiros valores de vida? Isto já não tem tanta importância neste “admirável mundo novo”! Tempos de pandemia; tempos de pantomimas.

Rabugice? Não. Sinto falta da mão no coração e do brilho nos olhos. Taciturno, relembro Neruda: “ o maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido”.

Wagner Ligabó é médico cardiologista e vereador

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