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Jundiaqui

 Pela volta do trema e do hífen
20 de janeiro de 2022

Pela volta do trema e do hífen

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Nossa última reforma ortográfica, que já não é novidade faz tempo, está atravessada na minha garganta até hoje. Sempre achei uma imbecilidade suprimir o trema em palavras como lingüiça e pingüim, sempre achei uma imbecilidade suprimir o hífen em palavras como contra-razões. Mas essas imbecilidades vieram apoiadas em um argumento “politicamente correto” (eufemismo para hipocrisia), qual seja, simplificar a grafia do idioma em benefício de segmentos menos sofisticados da comunidade internacional lusófona.

Recentemente, o ilustre Professor David Rodrigues, da Universidade de Lisboa, pelo qual tenho grande admiração intelectual e grande apreço pessoal (ele é casado com a jundiaiense professora Luzia Lima Rodrigues, amiga de infância da minha mulher Maria Helena, e o casal Rodrigues nos recebeu com inigualável fidalguia em uma de nossas viagens a Portugal), o professor David Rodrigues, dizia eu, esteve em Guiné-Bissau como representante do Ministério da Educação de Portugal e divulgou no Facebook inúmeras fotografias dessa viagem, em algumas das quais se destaca a excelente qualidade do artesanato local. Mas também divulgou a foto de um cartaz redigido no “português” falado em Guiné-Bissau, cartaz que diz o seguinte: “Mindjuria ambiente ku praticas pedagogicos na scolas pa inclui tudu mininus” (foto).

Depois que li isso, meu ego ficou massageado com a certeza de que eu tinha razão em considerar uma imbecilidade a supressão do trema e as restrições ao uso do hífen, tudo em nome de uma suposta uniformização para pior da grafia do idioma, em atenção a populações mais atrasadas da comunidade internacional lusófona.

Aliás Portugal, que afinal de contas é a pátria de nosso idioma, não aderiu completamente a essa suposta uniformização ortográfica. Por exemplo, em Portugal as pessoas continuam escrevendo “facto” (acontecimento) com “c”, para não confundir com “fato” (vestuário) sem “c”.

Então, minhas caras leitoras e meus caros leitores, se alguém me vier com esse argumento hipócrita de uma suposta uniformização em benefício de segmentos mais atrasados da comunidade internacional lusófona, responderei com uma expressão popular que aprendi com os portugueses: “Deixe-se disso e vá fazer punhetas”.

ATENÇÃO: “punheta”, em Portugal, é um prato de lascas de bacalhau cru, arrancadas com o punho, temperadas com cebola roxa e muito azeite de oliva. Vocês não imaginaram que eu usaria linguagem brasileira de baixo calão em um texto escrito para o JundiAqui. Ou imaginaram? Vai saber…

Luiz Haroldo Gomes de Soutello é advogado e escritor

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