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Jundiaqui

16 de junho de 2017

Solenidade de Corpus Christi e missão

Por Dom Vicente Costa

“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19b)

Prezados irmãos da Igreja de Deus que se faz presente na Diocese de Jundiaí:

No dia 15 de junho, a Igreja celebrou a Solenidade de Corpus Christi, a Festa do Corpo e Sangue de Cristo. É a homenagem que a Igreja, com muita fé e amor, presta a Jesus Cristo presente no Sacramento da Eucaristia. A procissão deste dia pelas nossas ruas e praças, atapetadas em muitos lugares com flores e arranjos bonitos, constitui o testemunho público da piedade do povo cristão para com este dom maravilhoso e extraordinário da Santa Eucaristia que o Senhor Jesus nos deixou ao celebrar a Santa Ceia: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,21b).

Como já tive ocasião de refletir na “Palavra do Pastor”, na edição do Jornal Diocesano O Verbo (Ano 20 – Nº 478 – Segunda Quinzena de Maio de 2017, pág. 3), o tema central da última Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, realizada em Aparecida (SP) – nos dias 26 de abril a 5 de maio de 2017, aprofundou o tema: “Iniciação à Vida Cristã”.

Além dos Sacramentos do Batismo e da Confirmação (Crisma), a Eucaristia faz parte essencial da iniciação à vida cristã. Pois, a partir do Batismo, o cristão mergulha na vida de Cristo e passa a fazer parte da comunidade dos discípulos missionários do Senhor Jesus, de quem, pela força do Espírito Santo, se torna testemunha autêntica pelo Sacramento da Confirmação.

Iniciados assim nos mistérios da Páscoa do Senhor, os cristãos podem sentar-se à mesa da Eucaristia. Deste modo, a Eucaristia é o sacramento da plenitude da iniciação à vida cristã, pois ela plenifica o que os outros dois sacramentos anunciam e realizam: a primeira entrada do cristão no mistério de Cristo pelo Batismo e a confirmação desta sua configuração como batizado pela Crisma.

É o que ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Pelos Sacramentos da Iniciação Cristã – Batismo, Confirmação e Eucaristia − são lançados os fundamentos de toda a vida cristã. (…) Os fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo Sacramento da Confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes Sacramentos da Iniciação Cristã, estão em condições de saborear, cada vez mais, os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da caridade” (n. 1212).

Queridos irmãos diocesanos: é pena que, muitas vezes, nós, cristãos batizados, crismados e participantes da mesa eucarística não fazemos da vivência destes três sacramentos um encontro vivo e permanente com Jesus Cristo, dentro de um itinerário capaz de tornar-nos verdadeiros discípulos missionários do Senhor Jesus. Infelizmente, recebemos estes sacramentos apenas por hábito ou por mera tradição, sem inserção na vida comunitária da Igreja e com pouca influência no compromisso que devemos assumir na construção de um mundo melhor.

Em comunhão com a caminhada da Igreja do Brasil, a Diocese de Jundiaí iniciou um processo amplo de reflexão sobre os Sacramentos da Iniciação à Vida Cristã. Preparou um subsídio para ser aprofundado e avaliado em vista da elaboração das Normas e Diretrizes para a Preparação e Recepção dos Sacramentos da Iniciação á Vida Cristã.

No que diz respeito ao Sacramento da Eucaristia, este anteprojeto sublinha a importância da Eucaristia na vida dos cristãos, conforme sua condição de vida (crianças, adolescentes, jovens e adultos) e indica pistas importantes para que a Eucaristia seja recebida, celebrada e vivida conforme sua natureza sagrada o exige.

Deste modo, “uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária, evangelizada e evangelizadora. (…) Para aproximarmo-nos da mesa eucarística, convém que nos tornemos discípulos apaixonados, missionários fervorosos e misericordiosos no anúncio do Reino de Deus” (cf. n. 125). Esta é a missão que a Eucaristia nos dá.

Um exemplo bíblico dessa missão que a Eucaristia nos confere é o relato dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35). Os mesmos dois discípulos, que de manhã fugiam desanimados de Jerusalém, de tardezinha se colocaram no caminho de volta. Em lugar de desânimo, há entusiasmo e coragem, pois experimentaram a presença de Jesus Ressuscitado, justamente quando Ele partiu o pão. Os discípulos de Emaús confirmam como devem ser os discípulos missionários de Jesus: eles se alimentam do Pão eucarístico, para que Cristo possa animá-los na fé, na esperança e na caridade e, mesmo com as dificuldades do caminho, anunciam que Jesus está vivo: “Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão” (Lc 24,35).

Dentro desta perspectiva, a celebração e a procissão que realizamos na Solenidade de Corpus Christi tornam-nos sinais vivos e autênticos da presença de Jesus em nós, na Igreja e no mundo, fazendo de nós como que “hóstias vivas, ostensórios do Senhor”. Deste modo, a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia perpassa toda a vida cristã. “Nós, na Eucaristia, tornamo-nos o que recebemos: ‘consanguíneos’ de Cristo, irmãos entre nós. A Igreja vive da Eucaristia, com ela se edifica, se fortalece. Não existe Igreja sem Eucaristia, nem Eucaristia sem Igreja” (São João Paulo II, Mensagem para a Conclusão do XI Congresso Eucarístico Nacional realizado em Aparecida − 21/7/1985).

Sim, meus irmãos: como o Senhor Jesus disse aos seus Apóstolos: “Fazei isto em minha memória” (Lc 22,19b), é preciso renovar e repetir o mesmo gesto de Jesus com que ele instituiu o memorial de sua Páscoa, dando-nos seu Corpo e Sangue como alimento e bebida. É preciso “partir”, como fez Jesus com o pão na Última Ceia (cf. 1Cor 11,24a), entregando sua vida para a nossa redenção, partilhando o que somos e o que temos com nossos irmãos.

Assim, “é a Eucaristia que se torna, desde o início, o centro e a forma da vida da Igreja. (…) Quantas mães, quantos pais, juntamente com o pão quotidiano cortado sobre a mesa de casa, repartiram o seu coração para fazer crescer os filhos, e fazê-los crescer bem! Quantos cristãos, como cidadãos responsáveis, repartiram a própria vida para defender a dignidade de todos, especialmente dos mais pobres, marginalizados e discriminados! Onde eles encontram a força para fazer tudo isto? Precisamente na Eucaristia: na força do amor do Senhor ressuscitado, que também hoje parte o pão para nós e repete: ‘Fazei isto em memória de mim’” (Papa Francisco, Homilia na Solenidade de Corpus Christi – 26/5/2016).

Peçamos, nos trezentos anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, que Maria, “o primeiro sacrário da história” (São João Paulo II, Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia” sobre a Eucaristia, n. 55c), nos ensine a fazermos de cada momento de nossa vida uma procissão missionária de Corpus Christi, como ela o fez ao visitar sua prima Isabel (Lc 1,39-56).

A todos abençoo.

Dom Vicente Costa é bispo Diocesano

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