Por Lucinha Andrade Gomes

A vida é estranhamente linda, pois não há olhar prospectivo que nos assegure um futuro linear e planejado.

Há mais de dois anos tenho driblado um encontro indesejável com um garoto, deve ser boy, chamado coronavírus, ou nome científico SARS COV-2.

Tenho cumprido a minha parte: no início, aterrorizante, fiquei em casa, já que a turma que amava a jovem guarda deveria isolar-se. Depois vieram as vacinas, cheia de felicidade tomei a primeira, a segunda, a terceira e a quarta doses. É fato que as reações foram adversas, mas eu não ligava, afinal quem quer partir? Usei máscaras, álcool em gel e aos poucos fui me libertando, perdendo o medo.

O boy, não tem recesso, é mutável e fica sempre atento, à espreita para “dar o bote”, como dizem lá no Pantanal. E, foi assim, em um destes momentos de tranquilidade e libertação o boy veio sorrateiro e fulminante, uma invasão explosiva! De repente, minhas forças minaram e fui me entregando ao célere invasor…

Respirei fundo e espiei a belíssima janela da vida, retomei as forças, fui ao hospital, recebi soro, vitaminas e disse:

– Boy, você já deu o seu recado, ok? agora, é a minha vez de atacar no ringue!

Caros leitores foram duas semanas de luta, sem knockdown, mas com várias quedas. A mente e o coração realizam um resgate do ciclo da vida e à medida que as cenas surgiam eu queria cada vez mais, com toda a minha força viver e sonhar e errar e acertar e cair e levantar e entrar neste cenário deslumbrante, que temos a oportunidade e o milagre de vivenciarmos todos os dias! , que pesem a dor, a fome, o horror, o ódio, o preconceito, o egoísmo, a inveja temos a capacidade de sublimar, crer com fé, sonhar, construir, amar e perdoar ! Vejam que fantástico é poder viver!

Fiz um contato espiritual de quarto grau com o boy, extraterrestre, e com a voz calma e firme ditei: – ô abre alas, meu bloco vai entrar, a invasão agora é nossa! Sai de retro que o bonde da Lucinha vem pra ganhar! Xô covid!

Lúcia Helena Andrade Gomes é escritora