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Jundiaqui

 a rotina é o nome cotidiano que deram à morte
4 de julho de 2018

a rotina é o nome cotidiano que deram à morte

por José Renato Forner

mais uma manhã. mais uma…

a rotina (o nome cotidiano que deram a morte) arrastou seu corpo até o banheiro.

com um leve tremor escovou os dentes e por descuido olhou-se no espelho.

sua boca espumando branco, seus olhos com casquinha, o cabelo engruvinhado…

correu os olhos pelo mapa de seu rosto e estancou quando seus olhos se cruzaram com seus olhos.

estabeleceu-se um silêncio e o pequeno cômodo já não existia mais. já não havia mais pia, escova, ou qualquer outra parte de seu corpo. somente olhos.

quatro olhos que não davam conta de contar sua história.

o que foi, sumia

o que seria, nada

apenas o presente de um olhar

uma qualidade de inferno no quadrado que reflete: deserto
uma expressão de dor rasga o tempo e então renascem suas linhas de expressão, o contorno da boca, nariz, os pelos da barba…

estava ali…

bochechou, cuspiu e com a cabeça baixa (não olharia para si novamente) pegou a toalha e enxugou a boca, suspirou e, num clamor baixinho, saiu o som:

– deus, quem sou?

José Renato Forner é ator

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