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Jundiaqui

 Alma de mulher
8 de março de 2018

Alma de mulher

Por Thaty Marcondes

Se um homem visitasse a casa de uma mulher, veria a sala simples e arrumada, com um sofá sempre a esperar por uma investida ousada do amante; um vaso de violetas sobre uma toalhinha de crochê feita pela avó; um tapete com almofadas em frente à lareira e, comodamente dispostos, o saca-rolhas, as taças e a garrafa; o vinho à espera do calor da lareira; a lareira à espera do inverno; o inverno à espera dos corpos no tapete, do fogo na lareira, do buquê do vinho.

Na cozinha, uma mesa quente aguardando a fome do depois, com delícias mornas e leves, com cremes de paixão e tesão, com doces e morangos frescos.

No quarto, muitos livros sobre a mesa de cabeceira, com páginas marcadas, poesias anotadas, seu nome em uma delas; na cama, os lençóis engomados e macios, algodão puro pra não esquentar ou escorregar, travesseiros e travesseirinhos apropriados para encaixar.

Depois do amor ele veria a caixa com tampa semiaberta, sobre um baú fechado. Nela, fotografias amareladas, algumas com dedicatórias, datas, até rostos recortados – dores do passado que jogamos fora –; o primeiro sapatinho dos filhos, anotações sobre suas vidas, fotos de crianças banguelas (idade gostosa que toda mãe quer colecionar!); os dentinhos perdidos em uma caixinha pequena. Ninguém entende isso – só mãe mesmo.

Dentro de nós moram duas: o que uma tem de santa, a outra tem de fêmea vadia, bicho solto. Mulher âmago é dualidade pura, mas sabe dividir o tempo: há um tempo de ternura, há um tempo de carícias. Só não gostamos é do tempo de amarguras, que sobrevém quando um destes dois se finda, então tecemos esperanças de um novo tempo de delícias.

No sótão raramente permitimos visitas: espelhos da juventude, sapatos de bailarina, títulos de livros, nomes dentro de corações sangrentos, a vela da primeira comunhão, o laço de fita de quando cortamos a trança, a caneta da formatura, os tíquetes das viagens, as nuvens de algodão.

Se um homem visitasse o âmago de uma mulher, ele veria a simplicidade de seu coração, o amor em seus olhos, os filhos nos seios, a vida em seu ventre, o néctar no leite, a paixão entre as pernas, o desejo em suas mãos, em sua mente, devaneios de um mundo prenhe de paz e vazio de guerras.

Se um homem visitasse a mente de uma mulher, teríamos um mundo sem guerras, repleto de deuses e anjos, de poesia e música: Eva completando Adão, Adão nascido do sopro de Eva.

Thaty Marcondes é escritora e poetiza

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