Eu continuo
Por José Renato Forner
sabe que mesmo quando tudo está escuro
as imagens todas embaralhadas
e o coração com cordas cortantes amarrando o pescoço
tenho uma tendência ritualística a um novo mundo legal
com coisas bacanas acontecendo pra todo mundo
quando os pés estão cansados e rachados
tenho uma certeza que não sei de onde
calçarei novos sapatos
confortáveis
e estimulantes para seguir o caminho
minha fé
ora jogada em turbilhões
(desses que dizem que nada existe)
ora apropriada para um pedido de socorro
ora esquecida
ela cresce
e fica forte
aí, eu paro e penso:
mas se tudo é ilusão
vai de cada um construir essa ilusão
pois bem
minha ilusão é para o bem
meu e dos meus
e para os seus também
e numa oração fecho meus olhos
“compreensão”
e já
no abrir dos olhos
a lágrima seca
e o sol está lá novamente
as crianças continuam brincando na creche
(sim, em frente de casa tem uma creche)
o beija flor continua vindo tomar água no seu potinho
(sim, no meu jardim tem “potinho de água para beija flor”)
a árvore continua a balançar seus braços
e derramar sua folhas
(sim, em frente de casa tem uma árvore)
e eu
ah, eu continuo…
José Renato Forner é ator e escritor