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 OSCAR 2022 – “The Lost Daughter”: de mulher para mulher
12 de fevereiro de 2022

OSCAR 2022 – “The Lost Daughter”: de mulher para mulher

Por Sarah Bulhões

Que eu me lembre, sempre tive vontade de ser mãe, mas confesso que a brutal realidade materna de “The Lost Daughter” (“A Filha Perdida”) me fez repensar o assunto depois que os créditos finais subiram na tela preta.

Não me levem a mal por usar uma palavra tão densa, como brutalidade, para retratar o que senti ao assistir o drama da Netflix e primeiríssimo longa dirigido por Maggie Gyllenhaal – vale ressaltar que esse foi o maior motivo para que eu desse o play, além de adorar Dakota Johnson (aqui como Nina) por sua sutileza, atuação e beleza.

Ainda sobre interpretações, reconheço o poder inquestionável de Olivia Colman, mas não consigo assinar como fã de carteirinha da atriz, talvez por protagonizar papéis tão intragáveis.

Colman é Leda, uma mulher sozinha, mãe de duas filhas, divorciada e professora. Nesse aspecto, podemos incluir mais inúmeros adjetivos para caracterizar a personagem: traumatizada, inconsequente, perturbada, egoísta e desnaturada, como ela mesma menciona nas cenas finais do filme.

A história se passa durante suas férias em uma ilha da Grécia, na qual ela busca pela paz e o sossego, mas é interrompida por uma grande família escandalosa e um tanto mafiosa. Logo, não é difícil adivinhar o que vem por aí, mas adianto que tem papel importante até para uma boneca de criança.

Com uma narrativa repleta de flashbacks, a direção até tenta, no primeiro ato, nos enganar, fazendo-nos acreditar que a protagonista realmente está arrependida de algo relacionado à infância de suas filhas e, por alguns minutos, somos convidados a sentir um pouco de pena de Leda. O fato é que, esse sentimento logo se vai e cede lugar a uma sensação de inquietude e irritabilidade.

É tocando nessas feridas, que o filme ganha potência e personalidade, tornando-se uma obra utilitária para quem admira, não só o cinema, mas histórias bem contadas. Afinal, uma história bem narrada só recebe bons adjetivos se é capaz de despertar sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Portanto, deixo aqui meus parabéns à majestosa estreia de Maggie como diretora e roteirista, que transformou o livro homônimo cheio de subjetividade, em uma obra prima que destrói, por meio do passado de Leda e do presente de Nina, toda vidraça perfeita e idealizada da maternidade, explorando mulheres que tornam-se mães, mas que ainda desejam ser mulheres, com seus erros, acertos, desejos, desesperos, incertezas, dores e prazeres ocultos.

Por mais que seja ficção, assistir “A Filha Perdida” é desconfortante, pois sabemos que essa é uma realidade tão comum, mas ainda assim, não tão verbalizada. E nada mais justo do que usar e abusar de uma fotografia totalmente angustiante e claustrofóbica, com planos fechados em olhares, toques e minúcias de cada personagem. É um filme de mulheres, feito para mulheres.

Não dou spoilers, então sente no sofá e permita-se sentir esse incômodo; no bom sentido, é claro! Disponível na Netflix e com grande chance de desfilar nos tapetes vermelhos.

Veja também: O terror de uma idiocracia, a mesma que fazemos parte

Confira os indicados ao Oscar 2022

Foto: Divulgação Netflix

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