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Jundiaqui

 Escravo condenado a forca teve cabeça exibida em praça pública de Jundiahy
19 de dezembro de 2021

Escravo condenado a forca teve cabeça exibida em praça pública de Jundiahy

Por Vivaldo José Breternitz, do blog Jundiahy Antiga

Na cidade de Campinas, no dia 9 de novembro de 1835, no largo de Santa Cruz (hoje Praça XV de Novembro), foi enforcado e esquartejado o escravo Elesbão. Ele foi condenado por ter assassinado, no dia 20 de maio de 1831, o seu senhor, o capitão Luiz José de Oliveira, dono do Engenho Romão, terras situadas em Jundiaí no caminho para a estrada de Itu, tendo a seguir bebido seu sangue. No processo, foram interrogados 18 escravos e 35 outras testemunhas. Elesbão sempre jurou inocência.

Segundo o processo, Elesbão era “um africano, pertencente à nação cabinda, de estatura ordinária, rosto comprido, testa pequena, cabelos encarapinhados, nariz chato, boca resgada, beiços grossos, pouca barba, e parecendo ter vinte anos, solteiro”.

O crime teria sido cometido por Elesbão e por outro escravo, Narciso, que pertenciam ao capitão e haviam fugido, voltando tempos depois para matá-lo. Narciso foi preso e executado no dia 24 de maio de 1833, em São Paulo. Elesbão estava foragido, mas em 1835 foi capturado por capitães do mato. Ele se declarou inocente, dizendo serem os criminosos o próprio Narciso e mais Luiz Congo, escravos que queriam fugir do castigo acusando-o.

O crime teria sido cometido com o uso de faca (conforme a acusação contra Elesbão) e foice (Narciso), e o motivo teria sido o excesso de trabalho dado aos escravos. O capitão teria também abusado da namorada de um deles, que viviam em um quilombo na região de Itatiba – eram sete os escravos fugidos do Engenho Romão escondidos ali, entre eles também Luiz Congo.

Foi um espetáculo público, tanto que muitos donos enviavam seus escravos para que assistissem e contassem depois aos demais como foi a execução. Diziam se tratar de uma espécie de “educação”. Elesbão foi o primeiro escravizado enforcado e decapitado abrindo precedente para outros enforcamentos públicos na cidade.

Diz a história que um cortejo saiu da cadeia, formado pelas autoridades, o próprio réu, depois vigário e carrasco; a seguir, a infantaria e, fechando o préstito, a cavalaria, ambos da Guarda Nacional. Dirigiram-se todos à Matriz, onde foi realizada missa da qual o condenado tomou parte. Em seguida, o grupo desfilou pelas ruas mais importantes de Campinas, seguindo para o local do suplício, onde a sentença foi cumprida por volta do meio-dia. Momentos antes de morrer, Elesbão, mais uma vez, afirmou ser inocente.

Na sentença de condenação da morte foi acrescentada pelo juiz José Mendes Ferraz a determinação que se segue: “Declaro que depois do réu sofrer a pena de morte, cortar-se-ão as mãos e a cabeça; esta será remetida para a Villa de Jundiahy, e ali colocada num poste em lugar público e aquelas serão colocadas nesta Villa em um poste em lugar público”. Ou seja, a cabeça mandada para cá e as mãos exibidas em Campinas.

A burocracia já imperava: o referido juiz mandou entregar a cabeça ao juiz de nossa cidade, acompanhada de uma carta que dizia: “O portador desta entregará a Vª. Sª. a cabeça do justiçado Elesbão, para Vª. Sª. mandar coloca-la em um poste, em lugar público, conforme determina a sentença aplicada ao mesmo. Vª. Sª. me remeterá o recibo para constar” – o juiz de Campinas pedia o recibo da cabeça!!!

E mais um detalhe macabro: a carta de remessa da cabeça estava datada de 10 de dezembro, ou seja, um mês após a execução! A cabeça foi colocada em uma caixa e envolvida em sal e trazida por dois portadores, que receberam pelo trabalho 4 mil e quatrocentos réis – a forca havia custado 33 mil réis e o facão usado para cortar a cabeça e as mãos custou um mil e seiscentos réis.

Segundo recomendação da Câmara Municipal de Campinas, a forca deveria ser construída “com alguma segurança e firmeza, para servir em outras ocasiões semelhantes.” E isso contrariando determinação do imperador D. Pedro I para que as forcas fossem erguidas dois dias antes do cumprimento da sentença e retiradas dois dias depois. Ela permaneceu naquela praça até 1848, sendo depois transferida para o Campo da Alegria, ficando ali por alguns anos, até que em uma noite foi incendiada pela população.

Infelizmente crueldades seguem ocorrendo e a burocracia dominando ainda nos dias de hoje…

Ilustração: reprodução Facebook

 

 

 

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