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Jundiaqui

 Além do medo, contagio revela preconceito com quem está infectado e familiares
11 de abril de 2020

Além do medo, contagio revela preconceito com quem está infectado e familiares

Jundiaiense conta o dia a dia de quem enfrenta o coronavírus na família e assegura que não é só uma gripezinha, não

Uma família de Jundiaí vive a expectativa de receber o resultado do teste para a Covid-19. Na dúvida, a paciente que esteve internada no Hospital São Vicente está em isolamento completo. Se dentro de casa os cuidados são com a saúde da mulher de 66 anos, do lado de fora o que se enfrenta é o preconceito.

A pessoa aceitou contar essa história desde que não fosse identificada, o que mostra que, além de ter que lidar com a dor, o medo de morrer ou perder alguém, o contágio revela também um estigma do julgamento moral imposto sobre quem está doente e seus familiares.

Isso começou desde que a ambulância do Samu parou na porta e a paciente entrou na maca, além de ter equipamento de respiração instalado na casa…

Eis o depoimento:

“Estou cuidando da minha sogra, ela está agora em internação domiciliar. O resultado do exame não saiu, mas temos praticamente certeza de que é o coronavírus.

Ela tem 66 anos e fez um cruzeiro no início de março, fez uma parada em Maceió e seguiu à Europa. O destino seria a Itália, país que se recusou a aceitar o navio, assim como aconteceu depois com Espanha e Israel. Conseguiram parar em Portugal, onde os ônibus pegaram os passageiros do navio e os levaram até a pista para embarque imediato em um avião, que veio para São Paulo.

Minha sogra já chegou indisposta, ficou em auto-isolamento, sentiu falar de ar, foi parar no São Vicente dia 28 de março, onde ficou no oxigênio e fez tomografia do pulmão, sendo mandada de volta para casa. No dia 30, ainda com falta de ar, chamou o Samu para retornar ao São Vicente, onde ficou internada até a última segunda-feira, dia 6 de abril. Foi liberada com indicação de isolamento por mais 7 dias em casa. Eu e meu esposo estamos cuidando dela, na casa dela. Ela veio de ambulância, instalaram oxigênio.

O que mais me preocupou nela foi o estado de ansiedade nestes dias. Houve alguns desencontros de informação também com o hospital. É que quem nos dava retorno sobre a saúde dela era o pessoal da equipe de psicologia, que não tem contato com os internados em isolamento, ou seja, a equipe médica falava e eles retransmitiam, não tinha como dividir dúvidas, questionar nada.

Isso só mudou a partir do sábado (4), quando alguém da equipe médica passou a ligar pra gente. Talvez uma nova determinação por conta da ansiedade gerada também nos familiares… Eu tenho certeza que se ela tivesse podido ter contato de imediato com a equipe psicossocial do hospital ou com familiares por telefone e tal, baixaria um pouco a ansiedade nos dias de internação e com reflexos até agora.

Ela está tomando Sertralina 50mg de manhã e 10 gotas de Clonazepam à noite (antidepressivo e ansiolítico). As vitórias são diárias e é isso que eu estou trabalhando com ela, para baixar a ansiedade que ainda a atrapalha no desmame do oxigênio, que usa de maneira contínua.

Segundo informações do Hospital São Vicente, não trataram ela com cloroquina, mas com medicações para H1N1. Eles estão usando cloroquina em pacientes graves apenas.

EMOÇÃO AFLORADA

Eu vim com ela na ambulância, minha sogra é linda, muito vaidosa e ali era uma pessoa que aparentava 30 anos mais. Usei muito auto-controle, a recebi com um enorme sorriso e com muita positividade. Ela estava muito emocionada e vez ou outra ainda fica.

Ela viajou em 9 de março, mesmo contra a vontade da família, pois tinha certeza de que nada aconteceria com ela, uma vez que se considera muito cuidadosa. A última conversa com a filha foi dura, ela implorou para a mãe descer em Maceió e voltar para casa, mas não foi atendida.

Acreditam que o contágio se deu por um passageiro português que embarcou aqui em Santos. Dias depois que ele desceu em Portugal, confirmaram ser positivado para a Covid-19.

Quando ela foi ao São Vicente pela segunda vez, pensou que fosse receber oxigênio e vir embora novamente, por isso não falou com os filhos. Tudo isso, certamente, colaborou para aumentar a ansiedade, misto de culpa e arrependimento, além do terror. Ouvi dela, bem emocionada, que “viu a morte de perto”.

Ela já rejuvenesceu 20 anos (daqueles 30 de quando a peguei no hospital). Já está 90% recuperada. Eu ofereço escuta, companhia, comida, faço o que ela gosta, enfim, estou aqui de corpo e alma. Mas sei o quanto minha sogra, sempre tão vivida, sofreu. Não é uma gripezinha, nunca foi. É séria, verdadeira.

 

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