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Jundiaqui

 O poder político em Jundiaí, do Século XVII ao Século XIX
25 de julho de 2020

O poder político em Jundiaí, do Século XVII ao Século XIX

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

No século XVII com certeza, e provavelmente também ao longo de quase todo o século XVIII, o poder político em Jundiaí era determinado quase exclusivamente por relações de parentesco. Na virada do século XVIII para o século XIX, surgiu como fonte paralela de poder político a Maçonaria. Difícil separar uma coisa da outra, porque representantes das tradicionais famílias de mandachuvas locais tornaram-se maçons, e maçons vindos de fora casaram naquelas famílias tradicionais.

Para quem quiser estudar mais a fundo esse assunto, posso contribuir com algumas informações de natureza genealógica.

O povoamento do Sertão do Jundiahy começou na segunda década do século XVII. A data tradicionalmente aceita é 1615. Esse povoamento inicial teve duas frentes distintas.

Em uma das frentes, os Moraes ocuparam terras no Sertão do Jundiahy por volta de 1615. Em 1625, Beatriz Rodrigues (de Moraes) morreu muito jovem, com testamento lavrado em suas terras de Jundiaí, onde residia com o marido Luís Cabral de Mesquita. Nesse testamento, serviram como testemunhas vários parentes dela, provavelmente moradores na vizinhança e sabidamente proprietários de terras em Santa Ana de Parnaíba. Isso permite concluir que essa frente de povoamento veio de Santa Ana de Parnaíba, e que as terras dos primeiros Moraes de Jundiaí ficavam naquela direção. E pelo inventário sabe-se que uma parte das terras deixadas por Beatriz Rodrigues (de Moraes) já haviam pertencido antes a um tio dela, Pedro de Moraes, o que torna plausível 1615 como data da chegada dos Moraes.

Em outra frente de povoamento veio a família Antunes Preto. Em 1610 o Capitão Manoel (Antunes) Preto obteve uma sesmaria na margem direita do Tietê, onde fundou, em 1615, a capela de Nossa Senhora do Ó, que deu origem à Freguesia do Ó. Pelas confrontações sabe-se que o pai dele, o português António Preto, já possuía terras ao lado. E, em 1618, Manoel Preto e seus irmãos obtiveram novas sesmarias que se estendiam do Tietê até o Rio Juqueri. O inventário de Manoel Preto foi perdido, mas pelo inventário do irmão Inocêncio Preto sabe-se que os Antunes Preto haviam ocupado terras também para cá do Rio Juqueri. Em 1642, Petronilha Rodrigues Antunes, filha do Capitão Manoel (Antunes) Preto e de Águeda Rodrigues, já possuía terras onde hoje fica o Ivoturucaia. Petronilha era viúva de António Jorge (Velho), com o qual teve os filhos Manoel Preto Jorge e Antónia Dias Preto, casada com João Paes Málio.

Muitos outros povoadores já se haviam estabelecido no Sertão do Jundiahy quando, provavelmente em 1649, o segundo Rafael de Oliveira arranchou para os lados da Serra do Japi, trazendo a segunda mulher, filhos dos dois casamentos e netos.

Em 14.12.1656, sem se dar ao trabalho de obter a necessária provisão do Conde de Monsanto, que era o donatário da Capitania de São Vicente, por herança de Martim Afonso de Sousa, os moradores do povoado surgido em 1651 elegeram Câmara Municipal, fato que assinala a fundação jurídica da Villa Fermosa de Nossa Senhora do Desterro do Jundiahy.

Os vereadores eleitos para aquela primeira legislatura foram João Paes Málio (genro de Petronilha Antunes), Mateus Machado Castanho (casado com neta de Petronilha Antunes), Estácio Ferreira (casado com prima-irmã do marido de Petronilha Antunes), António Luís de Pinha (irmão de Isabel de Pinha, casada com sobrinho-neto de Petronilha Antunes), Pedro Cabral de Mello (parente distante da mulher do segundo Manoel Preto, irmão de Petronilha Antunes), João Leme do Prado (genro de Rafael de Oliveira e irmão de Pedro Leme do Prado, casado com prima-irmã de Petronilha Antunes), António Gil (casado com sobrinha de Rafael de Oliveira) e José Duarte.

Acredito que essa amostra seja suficiente para demonstrar a minha tese de poder político baseado em laços de parentesco.

Os Moraes não aparecem nessa amostra, mas não estavam longe do poder, que foi assumido por seus descendentes no século XIX. Vejamos…

Manoel Rodrigues de Moraes, primo daquela Beatriz Rodrigues (de Moraes) cujo testamento e cujo inventário foram comentados acima, foi casado com Francisca de Siqueira Baruel, filha de João Baruel e de Mariana de Siqueira, e neta paterna do pirata inglês Henry Barwell. Esse casal é o tronco da poderosa dinastia dos Siqueira de Moraes. Foram pais de:

António de Moraes e Siqueira, falecido em Jundiaí, em 1757, casou com Ana Ribeiro de Faria, com a qual teve:

Francisca de Siqueira de Moraes casou em 1730 com o português António da Silva Prado. Pais de:

Capitão-mor Martinho da Silva Prado, comandante da milícia de Jundiaí, falecido em Jundiaí em 1770, casou com Maria Leme Ferreira, falecida em Jundiaí em 1805, filha do Capitão-mor José Dias Ferreira, comandante da milícia de Jundiaí, e de Maria Leme do Prado (bisneta de Pedro Leme do Prado, casado com prima-irmã de Petronilha Antunes e irmão de João Leme do Prado, genro de Rafael de Oliveira e vereador nas primeiras legislaturas).

Martinho e Maria foram pais de:

Ana Joaquina da Silva Prado foi casada três vezes. Com o segundo marido, o português António de Queiroz Telles, teve o segundo António de Queiroz Telles, Barão de Jundiaí (1789-1870) – retrato acima –, que foi o mandachuva local em sua época, e pai do Conde de Parnaíba, que foi Presidente da Província de São Paulo.

Proclamada a república, em 1889, o mandachuva de Jundiaí passou a ser o Coronel Joaquim de Siqueira de Moraes (1849-1935). Tudo em família.

Para terminar, registre-se que Jundiaí exportou poder político para São Paulo. Um primo do Barão de Jundiaí, o Barão de Iguape (António da Silva Prado), também neto do Capitão-mor Martinho Prado, fez parte da cúpula da Maçonaria paulistana e foi parceiro de José Bonifácio de Andrada na elaboração do modelo político imperial adotado pelo Brasil em 1822. A filha do Barão de Iguape, Dona Veridiana Prado (casada com um tio com o mesmo nome de família) foi a figura feminina mais destacada na sociedade paulistana da época. Um de seus filhos, o Conselheiro António Prado, foi deputado geral, senador, ministro da agricultura e, já no regime republicano, prefeito de São Paulo por doze anos (1889-1911). Outros filhos e alguns netos de Dona Veridiana também foram políticos atuantes, ao menos nos bastidores.

Luiz Haroldo Gomes de Soutello é escritor e advogado

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