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Jundiaqui

 Petronilha Antunes e a cereja do bolo
20 de julho de 2021

Petronilha Antunes e a cereja do bolo

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Durante muito tempo, a identidade de Petronilha Antunes foi um enigma para os historiadores de Jundiaí. O Padre Stafuzza, que de historiador tinha apenas a pretensão, chegou a afirmar que Petronilha não existiu, seria apenas uma lenda. Asneira grossa do Reverendo Padre, pois o Livro de Tombo da antiga Matriz, hoje Catedral, é justamente o documento de época que menciona a viúva Petronilha e sua família como patrocinadores da construção daquela igreja, em 1651, juntamente com a família do segundo Rafael de Oliveira. É por isso que Petronilha e Rafael são considerados os fundadores “oficiais” de Jundiaí, uma vez que não se sabe quem construiu a primitiva capela, já existente em 1634, segundo Alceu de Toledo Pontes, que nesse ponto se reporta à Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume 64, página 245.

Com base em um levantamento feito nas primeiras atas da Câmara por Mário Mazzuia, que assim relacionou os moradores de Jundiaí em 1657, e com base nas minhas leituras a respeito da história da família Antunes Preto, não tive dificuldade em situar a velha Petronilha como membro dessa família, o que fiz em um artigo publicado no Jornal de Jundiaí, já lá se vão uns quarenta anos (memória de velho é um problema). Quanto a isso, eu estava certo, mas, por precipitação, inseri a matriarca de Jundiaí no ramo errado daquela família. Corrijo agora.

A filiação correta de Petronilha foi descoberta pelo genealogista Marcelo Meira Amaral Bogaciovas, cujas “Notas sobre Petronilha Antunes” estão inseridas em um relatório do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, assinado por Adriano Campanhole, Wanderley dos Santos e Moisés Gicovate, relatório esse publicado em 1994, pela Literarte, sob os auspícios da Prefeitura de Jundiaí (p. 102-103).

Petronilha Rodrigues Antunes, nascida por volta de 1580, era filha do afamado bandeirante Capitão Manuel Preto, “o Conquistador do Guairá” (fundador da Freguesia do Ó, em 1615), e de Águeda Rodrigues. Petronilha casou com António Jorge, da família Jorge Velho. O casal teve pelo menos dois filhos, Manuel Preto Jorge e Antónia Dias Preto, esta última casada com o bandeirante João Paes Málio, com o qual teve quinze filhos. Quando Jundiaí passou de freguesia a vila, em 14.12.1656, João Paes Málio foi eleito vereador.

Desenvolvendo a pesquisa de Marcelo Bogaciovas, com base no banco de dados Family Search, disponível na Internet, acrescento que o Capitão Manuel Preto nasceu em Setúbal (Portugal), em 1550, filho de António Preto, neto de Pedro Gomes Preto e bisneto de José Gomes Preto, todos de Setúbal. A mãe de Manuel Preto, Ana Antunes Lage, nasceu em Braga, por volta de 1520, e morreu em São Vicente (Brasil), em 1580.

Pela avó paterna, Ana Antunes Lage, Petronilha Antunes era bisneta de António Gonçalves Lage (1490-1540), nascido em Braga, e de Ana Machado, nascida na Ilha Terceira (Açores).

Pelo bisavô António Gonçalves Lage, Petronilha era trineta de Simão Gonçalves de Oliveira e de Maria van der Haeguen, era tetraneta de (Fulano) van der Haeguen, e era pentaneta de Willen van der Haeguen.

Agora é que vem aquilo que, para os numerosos jundiaienses de origem italiana, deve ser a cereja do bolo: pela mulher de Willen van der Haeguen, nascida Margarida de Savoia, a nossa Petronilha era hexaneta de Amedeo VIII, Conde de Savoia (depois Duque, a partir de 1416), era heptaneta de Amedeo VII, “il Conte Rosso”, era octoneta de Amedeo VI, “il Conte Verde”, e por aí vai, até Umberto I Biancamano, o fundador da dinastia, que morreu nos anos quarenta do século XI.

Para quem não sabe, quando a Itália começou a ser unificada, em 1848, Vittorio Emanuele II di Savoia assumiu o título de “Re d’Itália”. Foi sucedido no trono por Umberto I (aquele dos bigodes enormes), que foi sucedido por Vittorio Emanuele III, que foi sucedido por Umberto II. Todos parentes distantes da nossa Petronilha… Não é uma cereja?

Luiz Haroldo Gomes de Soutello é historiador

 

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