LOADING...

Jundiaqui

 Venâncio se foi, mas sua obra é eterna e será resgatada domingo
18 de novembro de 2019

Venâncio se foi, mas sua obra é eterna e será resgatada domingo

Show relembra canções deixadas pelo genial compositor que faleceu em 2013

José Arnaldo de Oliveira (texto publicado originalmente no site OA)

A virada dos anos 1980 revelou em Jundiaí, essa nossa cidade paulista no sopé da Serra do Japi, um dos maiores compositores de sua história musical e tema do espetáculo “Venâncio Furtado – Um Visionário pelos Ares da Ilusão”, que teve estreia em 2017 no Sesc Jundiaí e que volta aos palcos agora neste domingo, 24 de novembro de 2019, às 20 horas.

Com longos cabelos mantidos ao longo de toda a vida, o visual remetia ao rock, mas estava mais próximo da fusão promovida na época por experiências como Novos Baianos, Clube de Esquina ou Sá & Guarabyra.

Por isso, esqueça as fronteiras. Os arranjos apurados variam do baião ao samba-canção, do rock rural ao blues, da MPB à balada de cantar junto. São canções que continuam frescas e atuais como o amor ou os sonhos. Coisas como “Guardião”, como “Lucinéia”, como “Esetnis”, como “Mister Poder”, como “Pelos Ares da Ilusão”, como “Mercenário”, como “Natureza Ferida”, como “Coisa Sem Nexo”, como “Alucinado”, como “Nó na Garganta”.

Em resumo, são poesias e melodias com valores e ideais que falam ao cotidiano em uma postura muito mais para Iacanga, festival que marcou época em uma fazenda do interior, do que para Rock in Rio, o megaevento em arenas.

A apresentação envolve músicos autodenominados Mágicos e Místicos, uma espécie de “banda eucalipsônica” formada especialmente para esse projeto. Com violões, guitarra, percussão de diversos tipos, baixo, bandolim e, claro, os vocais e coros que marcam essa obra.

O grupo conta (em ordem alfabética) com Antunes Nasser, Bocudo Farias, Christofer Furtado, Clarina Fasanaro, Edu Nunes, Hamilton “Gariba” Ramalho, Marcola Nasser, Paulo Silva, Telma Costa e Tom Nando. A idealização é conjunta de Clarina e o jornalista Flávio Gut.

Todos tiveram algum tipo de convívio com o compositor, que na década de 1980 participou de três formações (Escaravelhos, Cordas Vocais e Atitude Suspeita) e de momentos como levar a música jundiaiense para todo o Estado de São Paulo, pela TV Cultura, no programa “A Cidade é o Show”.

Desafio você a tomar conta da Terra

Desafio você a não pensar mais em guerra…

(da música Guardião)

O início da década de 1980, em meio a passeatas pela proteção da Serra do Japi e de esperanças de democratização do país, era um cenário ideal para o surgimento de um compositor que iria sacudir uma parte daquela geração com canções visionárias celebrando a liberdade, o amor, a natureza e a arte.

Músico sim e também artista visual que deixou sua marca em dezenas de motocicletas e capacetes da cidade, entre outras peças que pintou.

Neste barco onde eu navego

ainda não sou capitão, não

nem tampouco sou o velho cego

com minha viola na mão…

(da música Pelos Ares da Ilusão)

Os arranjos para as canções de Venâncio seguem suas composições originais, mas a maioria dos músicos envolvidos possui uma longa estrada de convívio com elas e o resultado é um grande presente para quem há muito tempo não as ouvia ou mesmo para quem vai ter o primeiro contato com essa pérola da arte local.

Impressiona como soam atuais. Como a veia libertária do compositor que ironiza poeticamente a perda de contato dos políticos com a realidade do povo, o que já era visto em tempos de ditadura e não desapareceu com a democracia.

Boa noite, Mister

Boa noite, Mister Poder

Onde estão os seus carros

A sua sociedade…

(da canção Mister Poder)

O esforço musical em andamento coloca a arte de Jundiaí em seu patamar original de não ser algo apenas comercial mas sobretudo preocupado com o autêntico, com o criativo e com o verdadeiro da fruição entre artistas e público.

VENANCIO

VECIONAN

NAVECION

NACIVOEN

VECIONINO

Até mereceria um rascunho inspirado no concretismo do também jundiaiense Décio Pignatari. Mas os rótulos não cabem em seu trabalho – e a brincadeira acima nem chega perto.

Da poesia psicodélica até bandeiras antiautoritárias, além de muito amor, esperança, natureza e liberdade, é um grande legado.

O amálgama de ligação entre todos os ritmos eram as letras criativas e a união de artistas envolvidos em torno da utopia imaginada e vivida de estar em uma comunidade, uma cidade de interior com antenas no mundo.

E a energia de uma relação profunda com esses valores, incluindo longas caminhadas entre a boemia no Centro Histórico e a vista do amanhecer no Pico do Mirante.

E além da serra a virada dos anos 70 para os anos 80 marcou momentos vitais da cidade como os movimentos pela despoluição do rio Jundiaí, pelo resgate de prédios como o Solar do Barão ou o Teatro Polytheama, pela suspensão da demolição da Ponte Torta, pelos protestos contra o corte das figueiras centenárias da Praça da Bandeira. Tudo ao lado do crescimento de movimentos nacionais e mundiais contra o racismo, contra o machismo, contra a usina nuclear, contra as guerras, contra a falta de moradia popular ou por eleições diretas, entre outros.

Essa efervescência era vivida na interação da música com outras artes, na multiplicação de bares com música ao vivo, de cinemas, restaurantes, festivais, feiras de livros, desfiles carnavalescos e manifestações no centro histórico da cidade, com a alta bilheteria dos filmes brasileiros nos seus cinemas de rua, o grande público em shows de MPB na Esportiva, onde passaram nomes como Caetano Veloso, Alceu Valença, A Cor do Som ou Elis Regina, e os longos papos nas lojas de discos, livrarias, praças, feiras de artesanato ou fliperamas.

E ainda estavam pela cidade nomes lendários como dos Chorões do Japy (grupo que chegou a ganhar música de saudação de Lamartine Babo) no boteco e restaurante Armazém, que também era um dos muitos pontos de encontro de gerações mais jovens como os músicos citados.

Tudo isso desembocou no fluxo do movimento coletivo que poderia ser chamado de música popular jundiaiense, com canções como a obra de Venâncio e que na década seguinte seria reforçada com uma corrente mais ligada ao rock autoral e ao rap, completando uma cena longa que já vinha desde a viola, o samba e o erudito. Isso se refletia na diversidade que também marcou o compositor.

Os frutos dessas circunstâncias foram grandes momentos musicais. A homenagem reúne principalmente artistas que compartilharam momentos de criação ou interpretação com Venâncio Furtado, mas é também uma celebração ao celeiro musical de Jundiaí.

Fotos: Edu Cerioni

Serviço:

“Venâncio Furtado – Um Visionário pelos Ares da Ilusão”, com a banda Mágicos & Místicos

Data: dia 24 de novembro, domingo.às 20h, no Yellow Pubmarine, dentro do Beco Fino

Ingresso: R$ 20.

 

 

Prev Post

Casal de Jundiaí completa 2…

Next Post

Agência de Jundiaí é premiada…

post-bars

Leave a Comment