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 Dia das Bruxas: a dor atrás da lenda
31 de outubro de 2023

Dia das Bruxas: a dor atrás da lenda

Por Antônio Carvalho de Ávila Jacintho

Neste chuvoso 31 de outubro de 2023, me coloquei a pensar sobre as ‘bruxas’, ‘celebradas’ neste dia…

Há séculos, durante a Idade Média (situada entre séculos V e XV), muitas mulheres foram queimadas, nas fogueiras da Inquisição, por serem consideradas ‘bruxas’.

O termo permaneceu em nosso imaginário, embalado por seu uso pejorativo, contra uma mulher, redesenhado nos contos do francês Charles Perrault (1628-1703), e atualizado, nos estúdios da Disney. Em todos esses espaços, as ‘bruxas’ devem morrer.

Muitas mulheres continuam sendo ‘queimadas’, ainda hoje, em pleno século XXI. Mulheres pretas, mulheres faveladas, mulheres trans, mulheres que morrem fazendo abortos em clínicas clandestinas, mulheres traficadas, mulheres vendidas para a prostituição, mulheres ativistas, mulheres na vida política, mulheres feministas, mulheres que têm filhos assassinados injustamente nas comunidades pobres, mulheres que “não merecem serem estupradas porque são feias”, mulheres indígenas estupradas e assassinadas por garimpeiros ilegais na ‘’Amazônia legal’, mulheres que decidiram não serem mães, mulheres que estão fora do padrão, mulheres que decidem ter uma vida, fora do que a sociedade conservadora e machista, considera, ‘mulheres de bem’.

São muitas as mulheres ‘queimadas’ em todo o mundo. No Brasil, na Ucrânia, na Rússia, no Afeganistão, no Irã, em Israel, em Gaza, em vários espaços de exclusão e extermínio.

A misoginia cresceu muito na última década. Em todos os lugares do planeta. Como disse, certa vez, a escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986): “Basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.

Que sobreviva o direito das mulheres serem ‘bruxas’, e permanecerem vivas, podendo ser, e existir, atuando com liberdade, em seus espaços, em qualquer lugar da Terra.

Terra, nossa nave mãe.

Antônio Carvalho de Ávila Jacintho é psiquiatra, psicanalista e professor da Unicamp e do ICW Psicologia

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One thought on “Dia das Bruxas: a dor atrás da lenda

Marcelo Limãosays:

Sensacional reflexão, professor. Silvia Federici denuncia que a caça às bruxas está na base da acumulação primitiva do Capital, sem a qual o capitalismo não teria logrado êxito. Mesmo passado séculos, ainda hoje, 2023, há práticas de queimar mulheres vivas, sempre com o objetivo de tomar-lhes a propriedade…

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