Um pelotão do tipo mais comum e aparentemente inofensivo pode escangalhar com seus eletrônicos

Cláudia Bergamasco 

Não bastasse a minha máquina de lavar estar dando claros sinais de que está morrendo, com seus circuitos elétricos e eletrônicos acendendo quando não precisam e mantendo-se dormentes quando eu necessito, agora é a vez do meu televisor mandar as contas. Nem é tão velho quanto a máquina de lavar, mas começou a fazer manha e aparecer com a tela riscada, ter uns chiliques de quem está de mal com a vida. Mexi aqui e ali e nada do aparelho voltar ao normal. Liguei e desliguei o aparelhinho da TV por assinatura, esperei 30 segundo, liguei de novo e lá estavam os riscos novamente. Fiz isso algumas vezes sem sucesso.

Desliguei e fui ler um livro achando que quando religasse a dita cuja estaria de melhor humor. Que nada, piorou tudo. Além dos riscos, começou a piscar e escurecer a tela, voltar e assim por diante. Mexi mais um pouco antes de chamar um técnico e percebi uma pequena coisa pretinha andando atrás da TV. Tirei da tomada e do painel da parede e vi, assombrada, uma legião de formigas. Um formigueiro inteiro havia se instalado no interior da minha TV. Que catso é isto! Um exército marchando com determinação para dentro dos chips, eletrodos e sei lá mais o quê existe dentro de um televisor não tão antigo assim. Não se trata de um Telefunken (quem não lembra dessa marca?) de tubo e válvulas, mas de uma Sony de tela plana.

Como disse, não é nova, tem lá seus dez anos, mas funciona, ou funcionava perfeitamente bem antes da invasão das formigas. Não são formigas especiais, dessas com super poderes que vira e mexe são estrelas de filmes de horror americanos; são daquelas normaizinhas mesmo, pretinhas, tamanho de formiga comum, mas o estrago que fazem é estarrecedor. Devem ter o estômago do tamanho da bunda ou até maior, porque comeram até um pedaço do fio.

Seria algum cheiro desprendido pelo aparelho que as atraíram? Tudo leva a crer que não. Pelo que me disseram, o interior de uma TV é inodoro. O que as atrai é o calor. Parece que os formigueiros são frios e, no inverno, elas vêm se abrigar em locais mais quentinhos, mas como são insensíveis a eletrônicos e não estão nem aí se nos são importantes ou não, saem em excursão para dentro de tevês e ferram com elas. E sabem como? Com xixi ou uma substância semelhante a isso. Eu nunca soube que formigas fazem xixi, mas esse líquido que elas liberam escangalha o seu equipamento, além, é claro, delas se regozijarem com um farto banquete de eletrodos e afins. O pior é que nem frio de verdade está fazendo ainda.

Para tentar economizar algum, já que com essa crise absurda o dinheiro está mais curto que cobertor de nenê, borrifei inseticida numa fileira, um pelotão delas. Matei algumas formigas, mas acabei o serviço que as malditas começaram. A TV nunca mais ligou. Dãããã…

Isso sem falar que meu computador foi para o saco – não, não foram as formigas – e meu microondas virou um fantasma: não posso deixar na tomada, porque se lhe dá na veneta, liga sem nada a esquentar. Desliga e liga de novo até que eu perceba e o ponha para dormir sem pesadelos.

Como visto, eletroeletrônicos e eletrodomésticos são sensíveis e exigem atenção tanto quanto nossos amigos, nossos pets e etcetera e tal.