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Jundiaqui

 Benassi foi receber Paulo Freire na volta do exílio
26 de outubro de 2023

Benassi foi receber Paulo Freire na volta do exílio

Por Edu Cerioni – Corria 1979, quando o filósofo e pedagogo Paulo Freire voltou do exílio de 15 anos fora do Brasil. Três políticos da época foram designados para a recepção no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Dois do PT, Eduardo Suplicy e Irma Passoni, e um do MDB, o jundiaiense André Benassi. Essa é uma das boas histórias que o ex-prefeito por duas vezes e também deputado conta na biografia “André Benassi – A política como missão”, recém-lançada.

Considerado subversivo nos tempos em que o Brasil viveu uma ditadura militar, Paulo Freire (1921-1997) se tornou referência na alfabetização de adultos com sua “‘Pedagogia do Oprimido” e é o Patrono da Educação Brasileira. Já o Dr. André, como ficou conhecido, está há vinte anos longe da política e resolveu agora fazer um balanço de sua carreira em paralelo aos desdobramentos familiares dos Benassi. Foi o primeiro a derrotar a Arena na cidade e começou uma ‘dinastia’ que teve desdobramentos com Miguel Haddad, Ary Fossen e Luiz Fernando Machado.

Vale a pena ler e relembrar histórias que foram levadas ao livro pelo jornalista e escritor Ricardo Viveiros. Com 56 livros, 20 biografias, ele amarra as coisas bem direitinho, em linguagem simples. É certo que foi contratado para escrever a obra, mas sem ser “chapa branca”. Em preto e branco o que se vê são dezenas de fotos do álbum familiar do biografado e também registros de diferentes épocas da cidade e do país.

Essa viagem começa cerca de 150 anos atrás, na Toscana, Itália, com Antônio Benassi e a morte de sua esposa Carlota no parto do quinto filho. Segue para Nova York, nos Estados Unidos, volta à Europa, desta feita na Alemanha e, enfim, com os Benassi se fixando no Brasil, mais precisamente aqui, onde nasceu em 1904 João. Ele se casou com Ângela e tiveram os filhos José, Terezinha, os gêmeos André e Antonio, Hermelinda (a Nenê), Mário e Sérgio. O livro conta o começo com venda de frutas e a saga que permitiu a construção de um dos grupos empresariais mais importantes de Jundiaí e do Estado, ainda forte na produção e venda de frutas e também no armazenamento de congelados, na fabricação de geradores de ozônio, no mercado imobiliário, no comércio de combustíveis, com braços em outros estados e até fora do Brasil.

Aqui o foco será na política, mas antes vem um caso de superação: André Benassi ficou com uma perna, a direita, mais curta que a outra por causa de uma ostiomietite. Relembra no livro que foi brincar e pegou um espinho, porta de entrada para uma infecção que o deixou 45 dias no hospital e dois anos sem poder andar. Deixou a zona rural para morar com tios no Centro para estudar e ter melhor assistência e isso mudou os rumos de sua vida.

Ajudou na vendinha dos tios, foi aprendiz de alfaiate, trabalhou em fábrica de escovas, em escritório de contabilidade, em cerâmica, até que aos 23 anos entrou para o Banco Federal de Crédito. Enquanto bancário conseguiu fazer faculdade e se tornou advogado, depois sindicalista e político. Como frisa Viveiros, “um político ficha limpa”.

Entrou para a política com um empurrão de Archipo Fronzaglia (um dos incontáveis nomes citados nas 192 páginas de “André Benassi – A política como missão”, à venda por R$ 65,00 e com toda a renda revertida para a Casa de Nazaré). Se candidatou a vereador pelo MDB em 1968, o que rachou a família, parte apoiando e outra dizendo que a “política era suja”. Foi o sexto mais votado. De 11 projetos, aprovou três.

Em 1972 saiu como candidato a vice-prefeito, perdendo para a chapa encabeçada por Ibis Cruz, da Arena. Uma curiosidade: no livro o nome do candidato a prefeito que fazia dupla com André não aparece. E quem conhece Viveiros e sua apuração entende que isso foi uma exigência do biografado, proposital. Uma pesquisa nos arquivos da Câmara Municipal de Jundiaí indica que o “nome proibido” é o de Otávio Betelli.

Em 1976, Benassi foi eleito vereador novamente e, em 1978, ganhou para deputado estadual. Com a censura afrouxada, foi um grande crítico ao governador Paulo Maluf.

Um projeto de destaque foi transformado em lei em 1981 para proteção de rios, nascentes e mananciais do Estado de São Paulo. O Rio Jundiaí revivendo hoje em dia começou com essa ação lá atrás.

Foi em 1982 que venceu as eleições de 15 de novembro para assumir no ano seguinte a Prefeitura Municipal, tendo Jayme Martins, jornalista que se notabilizou pela luta em defesa do Rio Jundiaí, como chefe de gabinete. Entrou com mais de 25% do orçamento comprometidos com dívidas, assegura na biografia. Sérgio Del Porto foi o escolhido secretário de Finanças. No lançamento do livro dia 10 último, o empresário me contou que “foram anos vibrantes e marcantes que mudariam o cenário de Jundiaí para sempre”.

O Dr. André chegou comprando uma das maiores brigas da vida, como diz, a da Saúde e isso por mais de dois anos seguidos. Conta que ouviu do secretário Hamilton Melindo logo na primeira reunião que “o povo diz que a pessoa entra viva e sai morta do São Vicente”. São várias páginas sobre a questão, o enfrentamento da direção da Faculdade de Medicina, que usava o São Vicente como hospital-escola, a ameaça de fechamento da instituição de ensino, o cancelamento de vestibular, a greve de médicos residentes, as passeatas de estudantes na cidade e em São Paulo, os 39 dias sem atendimento médico ali… Na versão do prefeito, o que fez salvou o hospital e a FMJ, ambos saudáveis e fortes atualmente.

Outra briga logo em 1983 foi a do transporte público, quando nove ônibus foram depredados por conta de passageiros insatisfeitos com os constantes atrasos. Cassou cinco linhas, intensificou a fiscalização, mexeu com a tarifa e com a ajuda da população levou asfalto a muitos cantos da cidade, o que agilizou os deslocamentos.

Em seis anos, mostra no livro que foram asfaltadas ruas de 58 dos 63 bairros de Jundiaí, em todos com o munícipe pagando parte das obras. Nessa época atualizou o IPTU e arrumou parceiros empresariais de peso. Um exemplo citado é o da Cica, que trouxe para cá os tributos relacionados a exportações e que antes ficavam em São Paulo.

É do governo dele a criação da adutora para captação de água do Rio Atibaia, a grande sacada de Jundiaí para evitar racionamento, além de represas e estação de tratamento de esgoto. Foi Benassi quem conseguiu a doação de terreno para fazer o Paço Municipal, que entregaria em uma gestão futura.

Entre outros, reformou o Teatro Polytheama, na marra e por conta da pressão popular, vale lembrar, patrimônio que corria risco de ser demolido. Criou o Instituto Serra do Japi, tirou o lixão do Distrito Industrial permitindo a chegada de novas empresas. E vai citando Ari Castro Nunes, Célia Marques, Clarina Fasanaro, Sandra Carnio etc. Para ele “o segredo do sucesso foi ter uma excelente equipe”.

Deixou a Prefeitura em 1988 e entrou para o PSDB em 1989, sendo eleito deputado federal em 1990. Partiu para Brasília com uma só mala de roupas e foi morar em um hotel. Votou pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Bateu saudade, dificuldade de aprovar projetos, e não teve dúvidas de concorrer e vencer outra vez para prefeito. Agora mandato menor, de quatro anos, entre 1993 e 1996.

Foi à Justiça para aprovar orçamento barrado pela Câmara, foi à Justiça pela tarifa de ônibus, foi à Justiça… como define, até 1995 foi só advogado, juiz e desembargador na sua frente. Seu chefe de gabinete era José Antonio Parimoschi, atual secretário de Finanças. Na eleição seguinte, passou o bastão para Miguel Haddad, que foi três vezes prefeito desde então.

Em 1998, Benassi foi eleito novamente deputado federal e só uma de suas propostas virou lei. Tentou sem sucesso em 2002 e 2006 voltar à Câmara dos Deputados. Desde então não concorre mais e, em 2016, se desligou do PSDB. Em 2018, um ataque cardíaco levou o gêmeo Antonio. Agora em outubro provou que ainda é muito influente ao atrair uma multidão para a noite de autógrafos de “André Benassi – A política como missão”.

Fotos: Arquivo JundiAqui e Reprodução do livro “André Benassi – A política como missão”

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