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Jundiaqui

 As olarias na história econômica de Várzea
17 de agosto de 2020

As olarias na história econômica de Várzea

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

No século XIX, quase toda a área rural de Jundiaí foi ocupada por fazendas de café. Esse ciclo econômico só foi encerrado em 1929, mas terminou mais cedo na região da Várzea, por causa de uma fortíssima geada que em 1878 matou as plantações ali existentes, sem que fossem replantados os cafezais destruídos. O que houve então na Várzea foi o início do ciclo industrial, com a instalação de uma destilaria de álcool de mandioca, que teve curta duração. A primeira indústria duradoura a se instalar na Várzea foi a Sociedade Anônima Produtos Químicos L. Queiroz, que há quase um século, em 1923, adquiriu a área onde hoje há um enorme complexo industrial.

Mas se considerarmos as olarias, que não deixam de ser indústrias cerâmicas de pequeno porte, pode-se dizer que o processo de industrialização da Várzea teve início em 1867, com a olaria de Isaac de Souza Galvão. Logo surgiram outras, por isso a São Paulo Railway construiu, em 1899, a chamada Ponte Seca, que cruza em desnível a linha férrea, permitindo o trânsito seguro de pessoas e de carroças entre o pequeno povoado já então existente e os barreiros localizados na várzea do Rio Jundiaí.

A Várzea pertenceu a Jundiaí até 1965, mas assim mesmo o portal eletrônico da Prefeitura do atual município de Várzea Paulista contém algumas informações a respeito da história local anterior à criação daquele município. Segundo essa fonte, em 1905 já existiam na Várzea cerca de oitenta olarias. Ainda segundo essa fonte, na virada dos anos quarenta para os anos cinquenta as olarias da Várzea produziam seiscentos e cinquenta mil tijolos por dia, quantidade suficiente para abastecer a região de Jundiaí e ainda vender a maior parte da produção em São Paulo e Campinas. É um assunto que merece mais estudo, então fica aqui a sugestão para quem estiver procurando um tema para a dissertação de mestrado.

Posso contribuir para essa pesquisa trazendo, como ponto de partida, algumas informações preservadas oralmente pela família da minha mulher Maria Helena, nascida Menten.

Pedro Menten (1888-1986), filho de alemães, foi sócio da Fábrica Teuto-Brasileira de Caixas de Papelão (Irmãos Menten & Cia.), em São Paulo, até que, aos cinquenta anos, decidiu mudar de ramo e começou a investir em terras na zona rural de Jundiaí. Por escritura de 22.9.1939, comprou a Granja Santa Teresinha, ao lado direito da Estrada da Várzea. E ao longo da década de quarenta comprou, ao lado esquerdo da Estrada da Várzea, todas as áreas existentes entre a Granja Santa Teresinha e o Rio Jundiaí, e mais um pouco para além do Rio Jundiaí. Essas áreas englobavam diversas olarias e respectivos barreiros, na várzea do Rio Jundiaí, e terras mais altas, entre os barreiros e a Estrada da Várzea.

As terras mais altas ele loteou, em 1954, com o nome de Vila Cristo Redentor. As olarias e barreiros ele arrendou a oleiros locais. Quando esses oleiros não conseguiam vender todos os tijolos produzidos, pagavam o arrendamento das olarias com tijolos, que Pedro Menten estocava na Granja Santa Teresinha, equilibrando assim a oferta e a procura, e mantendo estável o ritmo da produção.

Não foi fácil vender os lotes da Vila Cristo Redentor, porque a Estrada da Várzea era de terra, cheia de buracos, e se chovesse ficava intransitável. Uma das estratégias usadas por Pedro Menten para tornar os lotes da Vila Cristo vendáveis, a despeito da estrada péssima, foi oferecer dez mil tijolos de brinde para quem comprasse um lote. Funcionou e ainda ajudou a garantir o escoamento da produção das olarias.

Essas velhas olarias, que já estavam lá quando ele comprou aquelas terras, eram de uma, duas ou três pipas. Entenda-se por “pipa”, no contexto, o recipiente de madeira onde o barro era homogeneizado por um mecanismo rudimentar, também de madeira, movido por um burrinho que ficava dando voltas em torno da pipa. Como já se fazia antes de Cristo.

Com essa tecnologia primitiva, os barreiros estavam mal aproveitados. Havia muito barro sobrando. Empreendedor como era, Pedro Menten foi o pioneiro em instalar na Várzea uma indústria cerâmica de médio porte, a Cerâmica OMISA, por extenso Organização Menten Industrial S. A., que fabricava telhas francesas e tijolos perfurados (conhecidos em jargão de pedreiro como tijolos baianos), utilizando o que era tecnologia de ponta naquela época.

Para abastecer de lenha os quatro fornos da Cerâmica OMISA, Pedro Menten adquiriu mais áreas, nas quais plantou trezentos mil pés de eucalipto. Uma dessas áreas, com mais de quarenta e três mil metros quadrados, deu origem a uma boa anedota de família. Quando ele comprou, alguém disse: “Só mesmo um alemão maluco como você para comprar aquela área que não vale nada”. A resposta demorou algum tempo, mas chegou o dia em que ele teve o gostinho de retrucar: “O alemão maluco revendeu aquela área, com lucro, para outros alemães malucos”.

Contava meu sogro Ovídio Menten que de fato a negociação dessa venda foi conduzida em alemão, em um quiosque que havia no jardim da Granja Santa Teresinha. Mas os compradores não tinham nada de malucos. Pelo contrário, eles também eram empresários com muita visão de futuro. Foi naquela área que instalaram um complexo industrial da KSB, hoje a segunda maior fonte de arrecadação do município de Várzea Paulista, atrás apenas da Elekeiroz.

Imagem: Folheto publicitário do final dos anos cinquenta e Pedro Menten entre os netos Maria Helena (hoje Sra. Luiz Haroldo) e José Pedro. Ao fundo, a neta Maria Regina, hoje Sra. José Pedro Junior. Foto de 1971, restaurada por José Pedro Junior.

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