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Jundiaqui

 Homenagens aos professores e professoras
14 de outubro de 2020

Homenagens aos professores e professoras

Por Nelson Manzatto

O sorriso sempre foi constante em seu rosto. Diariamente, durante todo o ano letivo, ela se manteve assim: sorridente. Ensinar, para ela, representava a necessidade de todos colocarem em prática aquilo que dizia. E assim ia: bê-a-bá; bê-e-bé; bê-i-bi; bê-o-bó; bê-u-buuuuuu! E os alunos repetiam, uma, duas, dez vezes. Cartilha na mão, giz na outra e lá ia ela para o quadro-negro explicar o assunto, tirar dúvidas dos alunos.

As tabuadas também eram importantes, tanto que, uma vez por semana, ela dedicava um bom tempo da aula para nos ensinar: dois vezes um, dois; dois vezes dois, quatro; dois vezes três, seis. E assim por diante…

Tudo sem complicações! Não tinha aluno que não gostasse dela. Tudo bem que era a primeira professora de nossas vidas, já que, no meu tempo, não existia Pré-Primário, creche ou qualquer outra denominação. No meu tempo o estudo começava, exatamente, no primeiro ano primário.

E meu primeiro presente na escola foi ter dona Benedita como mestra. As aulas começavam às 11 horas da manhã e se estendiam até as 14. Sem intervalo. Direto! Sem recreio que, aliás, nem sabíamos o que era isso. E as salas de aula eram formadas por alunos do mesmo sexo. Nada de classe mista, como surgiu depois. Era bem Primeiro Ano Masculino A, ou Primeiro Ano, Feminino B, e assim por diante. Meninas a gente só encontrava na hora da entrada ou da saída.

Mas quem tinha dona Benedita como professora recebia alguns privilégios: durante o ano, pelo menos duas vezes, ela levou suas duas filhas – apesar de já serem mocinhas e os alunos não terem mais do que oito anos – para ajudar a distribuir pedaços de bolo. Uma delas, se não me falha a memória, foi no Dia dos Professores. As duas moças chegaram com uma bandeja na mão, faca, pratinhos, guardanapos e garfinhos. Nada de cantar parabéns, para não alertar as outras classes. E lá íamos nós, comendo o bolo, lambuzando o rosto, limpando com o guardanapo de papel. Mas nada de alerta. Ninguém podia saber do que rolou. O problema é que nossa classe era vizinha da Diretoria. Mas a gente sabia que não podíamos prejudicar nossa mestra. Por isso, silêncio era lei nessa hora!

Ninguém sabe explicar porque, nesta vida, as coisas de nossa infância passam depressa demais. Sem nos dar chance de aproveitar ao máximo tudo de bom que nos acontece. E dona Benedita foi uma dessas coisas que a gente não esquece jamais.

A última vez que a vi foi há muitos anos. Numa noite de abril, no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, quando eu realizava uma noite de autógrafos de um romance que acabava de lançar. E a vi saindo dali, satisfeita com o exemplar debaixo do braço, levando uma lembrança de alguém que ela havia ensinado a ler e escrever. Me lembro dos elogios que me fazia ao ver meu caderno de caligrafia. Hoje, se visse minha letra, com certeza, não entenderia um “a” sequer! Um verdadeiro garrancho! Mas tenho certeza que saberia da necessidade que tem um jornalista de escrever rápido para não perder informações. Alguém pode estranhar chamá-la de velha mestra. Mas velha nada tem a ver com idade, tempo de vida, essas coisas. Velha mestra, prá mim, significa sabedoria, conhecimento, segurança, competência. E isso tudo sempre vi em dona Benedita.

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