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Jundiaqui

 Memória social recente
26 de julho de 2021

Memória social recente

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello

Memórias de Jundiaí não precisam ser necessariamente do tempo de Petronilha Antunes ou do tempo do Barão. Alceu de Toledo Pontes escreveu crônicas saborosas a respeito de sua época, a melhor das quais, na minha opinião, é uma a respeito daquele bondinho puxado a burro que passava pela Ponte Torta e que era conhecido como “Mamãe me leva”.

José Leme do Prado Filho, durante muitos anos, publicou no “Jornal de Jundiaí” crônicas em que comentava o dia a dia da cidade. Coisas como um time de futebol amador que tinha até uniforme, mas que jamais entrou em campo, só entrava em bares e restaurantes. E por falar em bares e restaurantes, uma das melhores crônicas de João Carlos Martinelli é a respeito daquele grupo de pessoas conhecido como a U.T.I. da Paulicéia.

Vivaldo José Breternitz tem publicado no JundiAqui ótimas crônicas baseadas em notícias e em publicidade extraídas de jornais velhos. Então, acho que posso falar em um dia a dia da cidade um pouco mais recente.

Quando eu casei com a Maria Helena e vim morar em Jundiaí, já lá se vão mais de trinta anos, descobri que as irmãs Machado Menten deixaram memória de beldades aqui no pedaço. Descobri porque vários amigos e conhecidos fizeram comentários como “sua cunhada Maria Regina era muito bonita” ou “sua cunhada Maria Luíza era muito bonita”. Nesses comentários, o verbo costuma ser conjugado no passado (“eram”) apenas porque Maria Regina e Maria Luíza, depois de casadas, foram morar em outras cidades. Mas deixaram essa memória, especialmente em quem, como elas, estudou no GEVA.

Quanto à Maria Helena, que foi escolhida pelo Erazê Martinho para Rainha do Refogado, um rapaz da geração seguinte certa vez me perguntou: “Luiz Haroldo, a sua mulher por acaso tem alguma sobrinha solteira bonita como ela?” Eu poderia ter dito que várias, pois na ocasião as sete ainda eram solteiras, mas, como não sou casamenteiro, fiquei na minha. É claro que gostei do elogio à minha mulher, embutido na pergunta.

Embora eu seja suspeito para dizer isso, parece que as sobrinhas da Maria Helena são mesmo bonitas, porque, quando nós entrávamos com alguma delas em qualquer lugar aqui em Jundiaí, a rapaziada olhava com aquela mirada de lobo faminto. E nem sempre era só a rapaziada. Mas nenhuma é parecida com Maria Helena, nem com as minhas cunhadas, nem umas com as outras. Cada uma tem o seu jeito próprio de ser bonita e o seu estilo próprio de charme.

Essa variedade pode ser explicada pelo genoma complexo da família, que tem sangue renano (Menten, Konen, Lebeis), sangue milanês (Cambiaghi, Rigoldi), sangue genovês (Dória), sangue austríaco (Froch), sangue galego (Pinto) e sangue andaluz (Gonzalez), tudo isso combinado com o dos Machado, que são paulistas quatrocentões de origem portuguesa. O que parece confirmar a tese de que, em matéria de herança genética, uma boa mistura costuma dar bons resultados.

Dessas sobrinhas, a única que participou de um concurso de beleza foi Lívia Letícia, que herdou do pai, José Roberto Machado Menten (também ex-aluno do GEVA), os olhos de um azul intenso, o cabelo louro e a estatura de modelo profissional. Com treze anos, ainda desprovida de curvas, ela foi eleita a mais bela da categoria em um concurso realizado no Clube de Campo de Piracicaba (cidade onde nasceu), e, na etapa seguinte desse concurso, disputou por Piracicaba o título estadual. Ganhou a faixa de “princesa”, que corresponde ao segundo lugar (foto acima).

Já com corpo de mulher adulta, quando entrou na Faculdade de Odontologia, a caloura Lívia Letícia tomou um “trote” com sabor de homenagem. Um dos veteranos escondeu-se debaixo de uma das mesas de dissecação, no Departamento de Anatomia, e, quando Lívia se aproximou, ele introduziu pelo ralo da mesa uma varinha com a qual ergueu o membro do cadáver que estava em cima. Depois do susto, o comentário dos veteranos foi “menina, você levanta até defunto”.

Pois é, esse tesooouro morou um bom tempo aqui na Granja Santa Teresinha, mas a rapaziada de Jundiaí perdeu o bonde. Azar deles. Agora ela reside em outra cidade.

Luiz Haroldo Gomes de Soutello é escritor e historiador

 

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