
Revolução Constitucionalista de 1932
O 9 de julho, feriado em São Paulo, tem importância histórica para os paulistas e deixou marcas também em Jundiaí durante a Revolução Constitucionalista de 1932. A data representa ainda um marco político para todo o Brasil, por ter sido um movimento que exigiu que o país tivesse uma Constituição e fosse mais democrático.
Essa história começou dois anos antes, em 1930, quando Getúlio Vargas colocou fim à política do “café-com-leite” no governo federal, que era a alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo – algo marcante na República Velha (1889-1930). O gaúcho passou a ocupar a Presidência devido a um golpe de Estado, aplicado após sua derrota nas urnas para o paulista Julio Prestes.
A Revolução de 1932 representou o inconformismo de São Paulo em relação à ditadura Vargas – ele não apenas se negou a dividir poder no país como nomeou um interventor de fora para governar nosso Estado. Foi o que bastou para um levante que reuniu cerca de 135 mil homens, algumas dezenas deles jundiaienses, e que durou 87 dias. O saldo da Revolução foi trágico: quase 900 soldados mortos só no lado paulista, sendo um único deles jundiaiense, Jorge Zolner, que dá nome a uma rua do Centro.
O conflito terminou em 2 de outubro de 1932 com a rendição do Exército Constitucionalista. E apesar de uma única baixa, Jundiaí chegou a ser tomada pelas tropas getulistas, segundo consta no site do Exército Brasileiro, inclusive sendo bombardeada por avião – história que Vivaldo Braternitz contou no JundiAqui (relembre).
O 9 de julho foi tão marcante que dá nome à avenida que é cartão postal de Jundiaí e abriga a praça com o busto em bronze do Soldado Constitucionalista – conheça.
M.M.D.C.
O 9 de julho é o início do levante, mas foi em 23 de maio de 1932 que se desenhou a luta armada. Naquele dia, no cruzamento da Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República, no centro da Capital, uma multidão tentou invadir a sede do PPP- Partido Popular Paulista -, extensão política da Legião Revolucionária pró-Vargas. A multidão foi impedida a bala e, além de feridos, a ação resultou na morte de quatro pessoas: Mário Martins de Almeida, 31 anos, Eyclides Bueno Miragaia, 21 anos, Dráusio Marcondes de Souza, 14 anos, e Antônio de Camargo Andrade, 30 anos. Das iniciais de seus nomes/sobrenomes surgiu o M.M.D.C, sociedade à época secreta que conspirou para o advento da Revolução.
A notícia do levante paulista chegou aqui pelas ondas do rádio. E rapidamente a cidade se mobilizou. No dia 11, segunda-feira, o médico Dr. Antenor Soares Gandra já reunia um grande grupo em frente de A Paulicéia, na Rua Barão de Jundiaí, para definir os rumos da participação jundiaiense.
Mais alguns dias e no domingo seguinte, dia 17, às 10 horas, uma multidão se concentrou no Largo São Bento, para a despedida dos soldados alistados, que embarcaram na Estação Ferroviária rumo a São Paulo para compor o 1º Batalhão de Reservas do Exército e receber treinamento de guerra – outro grupo faria o mesmo dia 23.
CONTRA TUDO E TODOS
As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio Estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso. E embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, teve ampla participação popular – um dos motivos foi a utilização dos meios de comunicação de massa para mobilizar a população, como jornais e emissoras de rádio.
No site do Exército Brasileiro, a história dá conta de que “a Revolução Constitucionalista explodiu com o ímpeto e as características de verdadeira guerra civil e que os revolucionários previam que o movimento alcançaria outros Estados, mas este plano falhou”.
Traz detalhes sobre ações e reações, com uma linha do tempo que vai listando até baixas de um lado e de outro. Fala em diferentes cidades, em ataques como no Túnel da Mantiqueira, em investidas e retraimentos de tropas no Vale do Paraíba… Cita núcleos de defesa em Bragança Paulista, Campinas, Mogi-Mirim, São José do Rio Pardo e Ribeirão Preto.
Jundiaí aparece quando “em setembro, a situação ia-se tornando insustentável devido ao problema econômico do Estado e à falta de suprimentos, em especial de munição, e, especialmente, pelo abatimento moral do comando político da revolução. Nesta época ocorreu a primeira tentativa de negociar a cessação das hostilidades… Mais organizados, bem supridos, comandados e enquadrados, os governistas prepararam para a primeira quinzena a grande ofensiva sobre os últimos redutos defensivos constitucionalistas. As tropas do setor de Minas Gerais ocuparam Jundiaí e Itu, em ações rápidas, apertando o cerco em Campinas. O eixo da São Paulo Railway e o da Estrada de Ferro Sorocabana receberam novas forças”.
Apesar da rendição quando o conflito já durava quase três meses, em 4 de outubro, o principal resultado da Revolução de 1932 foi a convocação da Assembleia Nacional Constituinte dois anos mais tarde.
Ah, Getúlio ficou ainda no poder até 1945 – os últimos oito anos novamente como ditador.