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 Revolução Constitucionalista de 1932: Jundiaí e jundiaienses na luta
9 de julho de 2020

Revolução Constitucionalista de 1932: Jundiaí e jundiaienses na luta

Bombardeio, um morto, avanço pelos trilhos do trem, ocupação pelas tropas governistas…

O 9 de julho, que teve o feriado comemorado este ano com antecedência, por conta da pandemia do novo coronavírus, tem importância histórica para os paulistas e deixou marcas também em Jundiaí durante a Revolução Constitucionalista de 1932. A data representa ainda um marco político para todo o Brasil, por ter sido um movimento que exigiu que o país tivesse uma Constituição e fosse mais democrático.

Essa história começou dois anos antes, em 1930, quando Getúlio Vargas colocou fim à política do “café-com-leite” no governo federal, que era a alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo – algo marcante na República Velha (1889-1930). O gaúcho passou a ocupar a Presidência devido a um golpe de Estado, aplicado após sua derrota nas urnas para o paulista Julio Prestes.

A Revolução de 1932 representou o inconformismo de São Paulo em relação à ditadura Vargas – ele não apenas se negou a dividir poder no país como nomeou um interventor de fora para governar nosso Estado. Foi o que bastou para um levante que reuniu cerca de 135 mil homens, algumas dezenas deles jundiaienses, e que durou 87 dias. O saldo da Revolução foi trágico: quase 900 soldados mortos só no lado paulista, sendo um único deles jundiaiense, Jorge Zolner, que dá nome a uma rua do Centro.

O conflito terminou em 2 de outubro de 1932 com a rendição do Exército Constitucionalista. E apesar de uma única baixa, Jundiaí chegou a ser tomada pelas tropas getulistas, segundo consta no site do Exército Brasileiro, inclusive sendo bombardeada por avião – história que Vivaldo Braternitz contou no JundiAqui (relembre).

O 9 de julho foi tão marcante que dá nome à avenida que é cartão postal de Jundiaí e abriga a praça com o busto em bronze do Soldado Constitucionalista – conheça.

M.M.D.C.

O 9 de julho é o início do levante, mas foi em 23 de maio de 1932 que se desenhou a luta armada. Naquele dia, no cruzamento da Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República, no centro da Capital, uma multidão tentou invadir a sede do PPP- Partido Popular Paulista -, extensão política da Legião Revolucionária pró-Vargas. A multidão foi impedida a bala e, além de feridos, a ação resultou na morte de quatro pessoas: Mário Martins de Almeida, 31 anos, Eyclides Bueno Miragaia, 21 anos, Dráusio Marcondes de Souza, 14 anos, e Antônio de Camargo Andrade, 30 anos. Das iniciais de seus nomes/sobrenomes surgiu o M.M.D.C, sociedade à época secreta que conspirou para o advento da Revolução.

A notícia do levante paulista chegou aqui pelas ondas do rádio,  naquele sábado à noite, segundo conta no Facebook “Jundiaí em Fatos, Fotos e Versões” o historiador Maurício Ferreira, do Sebo Jundiaí. E rapidamente a cidade se mobilizou. No dia 11, segunda-feira, o médico Dr. Antenor Soares Gandra já reunia um grande grupo em frente de A Paulicéia, na Rua Barão de Jundiaí, para definir os rumos da participação jundiaiense.

Esse é o texto da convocação publicada em cartazes e jornais: “AO POVO DE JUNDIAHY – São Paulo à frente dos destinos da Pátria acaba de lançar seu grito de liberdade pela constitucionalização imediata do País, rompendo com a ditadura que nos vilipendia. Jundiaienses! Ficai atentos ao chamado do nosso querido Estado de São Paulo, ele podera necessitar do vosso concurso. Dai-o se preciso for. Alistai-vos na milícia cívica! Por São Paulo! Por Jundiahy!”.

Mais alguns dias e no domingo seguinte, dia 17, às 10 horas, uma multidão se concentrou no Largo São Bento, para a despedida dos soldados alistados, que embarcaram na Estação Ferroviária rumo a São Paulo para compor o 1º Batalhão de Reservas do Exército e receber treinamento de guerra – outro grupo faria o mesmo dia 23.

Maurício Ferreira lista nomes de alguns jundiaienses que participaram da Revolução ao chamado de Antenor Soares Gandra: Nicodemo Petrone, João Castilho de Andrade, Adoniro Ladeira, Mário Leandro Luiz de Faria, José Seckler Machado, Hugo Anaruma, José de Godoy Ferraz, Quinque Fortarel, Sandro Vendramini, Lindolfo Paixão, Nelson Maselli, Armênio Almeida Souza, Haroldo Moraes, José Barreto, Adolpho Hummel Guimarães, general Carlos Gomes Alcantara, Haroldo de Moraes, Camargo Reinaldo Orsi, José C. Marcondes, Antonio R. de Oliveira, Alceu Moraes, Juracy Palpério, Nelson Mazelli, Eduardo Pelegrine, Francisco de Queiroz Tellez, Jerbos de Araújo, José Barreto, Juvelino Figueiredo Farias, Abelar C. da Silva, Gothardo Simões, Jorge Cury, Armando Ferreira, Eduardo Pelegrine, Hassib Cury, Moacir Campos, Eugênio Lacerda, José Antonio Paulielo, Abelardo Corrêa, Benedito Fagundes Peixoto, sargento Antônio Raimundo de Oliveira, Archipo Fronzaglia, Rodolpho S. Bomeisel, Benedito Fagundes de Castro, Ernani Gumerato, Eugênio Lacerda Justino Chagas, Severiano Paixão, Gastão Motta, José Lambert, Luiz Pasini, Abelardo Corrêa, Juvelino Figueiredo, tenente Hélio Ferreira da Silva e Pérsio Campos.

A participação das mulheres de Jundiaí foi ampla também, lembra Maurício, na confecção de fardas, montagem de material de primeiros-socorros e na organização do movimento doe “Ouro para São Paulo” e recolhimento de doações de ferro-velho destinado à fabricação de capacetes.

CONTRA TUDO E TODOS

As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio Estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso. E embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, teve ampla participação popular – um dos motivos foi a utilização dos meios de comunicação de massa para mobilizar a população, como jornais e emissoras de rádio.

No site do Exército Brasileiro, a história dá conta de que “a Revolução Constitucionalista explodiu com o ímpeto e as características de verdadeira guerra civil e que os revolucionários previam que o movimento alcançaria outros Estados, mas este plano falhou”.

Traz detalhes sobre ações e reações, com uma linha do tempo que vai listando até baixas de um lado e de outro. Fala em diferentes cidades, em ataques como no Túnel da Mantiqueira, em investidas e retraimentos de tropas no Vale do Paraíba… Cita núcleos de defesa em Bragança Paulista, Campinas, Mogi-Mirim, São José do Rio Pardo e Ribeirão Preto.

Jundiaí aparece quando “em setembro, a situação ia-se tornando insustentável devido ao problema econômico do Estado e à falta de suprimentos, em especial de munição, e, especialmente, pelo abatimento moral do comando político da revolução. Nesta época ocorreu a primeira tentativa de negociar a cessação das hostilidades… Mais organizados, bem supridos, comandados e enquadrados, os governistas prepararam para a primeira quinzena a grande ofensiva sobre os últimos redutos defensivos constitucionalistas. As tropas do setor de Minas Gerais ocuparam Jundiaí e Itu, em ações rápidas, apertando o cerco em Campinas. O eixo da São Paulo Railway e o da Estrada de Ferro Sorocabana receberam novas forças”.

Apesar da rendição quando o conflito já durava quase três meses, em 4 de outubro, o principal resultado da Revolução de 1932 foi a convocação da Assembleia Nacional Constituinte dois anos mais tarde.

Ah, Getúlio ficou ainda no poder até 1945 – os últimos oito anos novamente como ditador.

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