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 OSCAR 2022 – A brutalidade de uma violência silenciosa e sem bang-bangs
23 de fevereiro de 2022

OSCAR 2022 – A brutalidade de uma violência silenciosa e sem bang-bangs

Por Sarah Bulhões

Liderando a corrida pelo Oscar 2022 com 12 indicações, “The Power of The Dog”, traduzido para “Ataque de Cães” é uma adaptação do livro escrito por Thomas Savage em 1967 e traz à tona um gênero que há muito tempo não aparecia nas telonas: o faroeste. Só que dessa vez trocando as cenas de tiroteio e perseguição por uma violência intensa e sutil ao mesmo tempo, mas sempre onipresente. Nesse caso, muito mais brutal que os bang-bangs de Sete Homens e Um Destino. 

Dias atrás estava questionando a necessidade das pessoas em caçarem plot twists dentro de um filme, sem, minimamente, prestarem atenção aos detalhes ou apreciarem o deleite de uma boa história com belíssimas fotografias e personagens bem construídos. Essa obsessão por reviravoltas na narrativa acaba ofuscando a beleza do percurso do enredo e a Netflix tem um papel crucial nesse novo comportamento, criando produções massivas de suspenses que deixam muito a desejar, alimentando a ideia do plot pelo plot e nada mais. 

Desculpem-me, mas acho necessário diferenciarmos e valorizarmos produções que realmente nos trazem, não só qualquer plot twist, mas um final bem amarrado, com uma construção narrativa que vai nos deixando pistas ao longo do caminho. Isso sim traz louvor à obra. E esse é o caso do novo longa dirigido por Jane Campion, diretora neozelandesa, que também assina “O Piano”, outra obra-prima que levou três estatuetas. 

Felizmente Jane Campion não faz parte da cúpula que se obriga a agradar a falsa postura progressista que permeia a Academia e Hollywood nos dias de hoje. Com isso, quero dizer que ela não precisa escancarar rótulos, nem içar bandeiras políticas para que sua produção ganhe a devida atenção. Pelo contrário, dona de um talento tão natural e inquestionável, suas obras se sobressaem por si só. 

Com uma direção primorosa que conduz o espectador por uma trama desenvolvida sem pressa, Campion vai adicionando camadas, registrando revelações sensíveis, alternando figuras de poder e aproveitando muito bem o que cada personagem tem a oferecer. E aqui entramos num elenco com dois nomes consagrados: Benedict Cumberbatch como Phil, o caubói tirano e respeitado por todos; Kirsten Dunst, a viúva Rose, recém-casada com o irmão de Phil e mãe de um adolescente considerado fora dos padrões para o Velho Oeste e um terceiro nome em ascensão que promete levar o Oscar esse ano, o jovem Kodi Smit-McPhee na pele, nem tão fragilizada, de Peter. 

O primeiro ato é extremamente contemplativo e isso se faz por meio da direção de fotografia que passeia pelas lindas paisagens da Nova Zelândia como se fossem as regiões montanhosas de Montana (EUA) por volta de 1920. As cenas são um deleite e merecem total apreciação. Após introduzir os personagens, a trama começa a se desenrolar de maneira silenciosa, porém muito inteligente através das atitudes brutais de Phil em relação à Rose, que começa a beber escondido, como se fosse gradativamente envenenada pela presença autoritária de Phil, e também diante do comportamento mais sensível do garoto, que vai se mostrando como um aprendiz de vaqueiro, interessado por Phil e por suas habilidades. Por vezes, achamos que o filme seguirá o tema homoafetivo, semelhante ao que vimos em o encantador “O Segredo de Brokeback Mountain”. Mas aqui, vamos mais a fundo ao explorar a masculinidade tóxica do faroeste americano, com nuances para um filme erótico, mas sem nenhuma nudez. 

Intrigante mesmo é acompanhar o longa ao passo que a diretora nos apresenta um caminho previsível, mas finaliza como uma catarse tão simplista e potente, com direito a um desfecho que se complementa ao início da narrativa, fechando o ciclo: “Quando meu pai faleceu, eu só queria a felicidade da minha mãe. Que tipo de homem eu seria se não ajudasse minha mãe?”. 

Já falei demais. O resto eu deixo com vocês. Boa sessão. Filme disponível na Netflix, possivelmente o melhor de 2021. 

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Foto: Divulgação

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